A Bem da Ordem e da Moralidade: O Assassinato de Albert Malschitzky

Albert Malschitzky era o presidente da Câmara Municipal de São Bento naquele turbulento ano de 1897. A agitação política tomava conta da cidade que, em maio, assistiu perplexa ao assassinato do comerciante e lider republicano João Filgueiras de Camargo. Malschitzky, na sua qualidade de Presidente de Câmara, considerou reprováveis algumas atitudes que o Capitão Joaquim da Silva Dias estava tendo enquanto Promotor Público de Campo Alegre. Decidiu então mandar um telegrama pedindo a sua exoneração do cargo, “a bem da ordem e da moralidade”. Essa teria sido a principal causa de seu assassinato, e ele poderia ter sido apenas o primeiro de uma série de surras e mortes que, segundo testemunhas, culminariam na tomada do poder pelo dito Capitão Joaquim da Silva Dias.

O assunto não foi, ainda, devidamente explorado pela historiografia local. Tenho consultado edições antigas do jornal Legalidade, e fico admirado com as notícias referentes aos acontecimentos daquela época. Um clima de medo dominava a cidade, a julgar pelas expressões do jornal.  Descoberto o principal suspeito, a indignação dava o tom do periódico. As acusações recaíam sobre gente graúda da região – o prefeito de Campo Alegre, Francisco Bueno Franco, era acusado de ser o braço-direito de Joaquim da Silva Dias. Encontrei até mesmo uma acusação contra meu tetravô Generoso Fragoso de Oliveira – segundo uma testemunha, Joaquim e seus homens se reuniam na casa de Generoso, em Fragosos. Os depoimentos das testemunhas, citados pelo jornal, também são bastante ricos em detalhes.

Comecei há algum tempo a escrever sobre esse assassinato, utilizando, para isso, técnicas do jornalismo literário. Esse é o primeiro capítulo da história:

Entre sete e oito horas daquele sábado, dia 21 de agosto de 1897, o cachorro de Georg Dums, imigrante de Hammern e morador da Estrada Dona Francisca, foi atingido por uma pedrada. Ninguém soube dizer quem havia sido o autor. A agressão deixou o animal muito machucado. “Não conseguiu andar por uma semana”, lamentou Dums. Era um cão “bravio e valente”, segundo o vizinho Carlos Körner. Quando algum estranho se aproximava da vizinhança, era sempre o primeiro a latir – latia antes que os cachorros de Alberto Malschitzky, também morador da Estrada Dona Francisca. E foram essas circunstâncias que chamaram a atenção de Dums e Körner no momento em que tiveram de depor.

Georg Dums já havia se recolhido ao seus aposentos na noite da quarta-feira seguinte, dia 25 de agosto. Era por volta de oito e meia da noite quando, subitamente, ouviu um barulho que parecia ser de dois tiros. Intrigado, debateu com a esposa sobre o que poderia ter sido aquilo. Decidiu então se levantar e verificar pessoalmente. Mal abriu a porta de casa, voltada para a rua, e encontrou o mesmo Körner, seu vizinho. Estava exaltado, e falou com rapidez:

– O Malschitzky… recebeu dois tiros e está quase morto!

11 pensamentos sobre “A Bem da Ordem e da Moralidade: O Assassinato de Albert Malschitzky

  1. Fendrich,

    Malschitzky era vizinho de Chico Pereira em Oxford, segundo Carlos Ficker, citando um episódio de 1882 sobre a construção de um caminho de ligação com a Estrada Dona Francisca.

    Saudações do Contestado!

    Fernando Tokarski
    Canoinhas (SC-PR)

  2. Prezado Sr. Fendrich.

    Me alegrei em encontrar trecho de sua pesquisa do momento crucial na vida de minha família. Sou bisneto de Albert Malschitzky. Conheci o Sr. Körner que casaria com minha bisavó, viúva de Albert. Opapa Körner, como nós o chamávamos, viveu muitos anos em São Bento do Sul, junto com meus tios Ingo e Ana Malschitzky.

    Meu avô, Max Malschitzky, que herdou a terra e a casa na qual Albert foi morto, me contava que muitas décadas depois do assassinato, veio uma pessoa de idade que começou a fazer perguntas sobre o assassinato e teria dito que ele, ainda jovem, estava acompanhado o atirador com uma tropa de cavalos, que estava sendo levada da região de Lages para Joinville.

    Lhe desejo sucesso na pequisa.

    Cordialmente

    Harald Malschitzky
    São Leopoldo – RS

  3. Olá a todos!

    Pelo (pouco) que sei, sou tetraneto do Albert Malschitzky.
    Meu avô, Renato Malschitzky, pouco me falou sobre esse episódio, mas sou muito curioso quanto a isso.

    Abraço!

  4. Mario Estevam Malschitzky, minha Mãe Ruth Goya tem o livro que conta a história de S.Bento e o assassinado.

  5. Olá Henrique
    Meu bisavô era Albert Malschitzky, e meu avô Alfredo Maslchitzky, era o bebê que estava no colo dele quando foi assassinado.
    Nós já “conversamos” algumas vezes pela net, mas essa página de São Bento, está com todos os detalhes com foi que tudo aconteceu.
    Obrigada pela pesquisa, obrigada por deixar perpetuado a nossa família por aqui .
    Vou repassar para meus familiares essa página, assim damos continuidade em nossa história.
    Um grande abraço

  6. Edson Igor Malschitzky,

    Minha avó, viúva do meu avô Renato Malschitzky se chamava (antes de casar) Diomar Goya.

    Estamos todos bem próximo!

  7. Oi Mariangela,
    Obrigado por compartilhar isto comigo também. Sabia que nosso bisavô teve atuação política em Joinville, mas não sabia de detalhes.
    Vou repassar para meus filhos, eles adoram estas histórias de família.

  8. Iara Ruth Malschitzky

    Sou filha de Benno Walter Malschitzky e neta de. Álvaro Malschitzky (filho de Alberto Malschitzky) sendo o Alberto meu bisavo. Meu opapa Álvaro e meu pai Benno,sempre contavam este acontecimento em São Bento.
    Sempre achei muito triste principalmente por eles contarem que o Alberto estava com uma criança em seu colo na hora do assassinato, e agora fico sabendo que esta criança era Alfredo Malschitzky.
    Bem interessante que esta história não caia no esquecimento por mais triste que tenha sido, pois refere-se a história de nossa família.
    Mario Estevam Malschitzxky, tenho a grata satisfação de te comunicar que sua avó Diomar Goya é irmã de minha mãe Ruth Goya, ambas se casaram com um Malschitzky, duas irmãs com dois primos, realmente estamos muito próximos!

  9. Tania Margaret Malschitzky Ruski

    Sou filha de Benno Walter Malschitzky, filho de Álvaro Malschitzky, que por sua vez era filho de Albert Malschitzky. Meu opapa e meu pai contavam este triste episódio. Através do livro que conta a história de São Bento, fiquei sabendo detalhes desta crueldade. Pela leitura constatei o que já sabia pelos relatos de meu pai, que meu bisavô Albert, era muito querido pela população , visto seu olhar solidário para com todos do seu convívio. No dia do seu enterro a cidade fechou em respeito ao grande líder. Desejo que você continue esta pesquisa, que vem enriquecer a história de São Bento e região. Obrigada, Tânia.

  10. Fui amigo do sr. Walter Malschitzki e de Vitor Malschitzki os quais vim conhecer em São Paulo quando mudei para cá em 1968. Conheci aqui também Mariangela Malschitzky, filha do sr Walter Malschitzky. A curiosidade do caso é que morei até meus 22 anos em União da Vitória onde conhecia Tania Malschitzky.
    E vim para São Paulo sem saber que conheceria o tio e a prima da minha amiga Tania. Muito interessante esse trabalho de pesquisa. Infelizmente pouco mudou nosso país nesse aspecto uma vez que fatos como esse continuam se repetindo.

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