Recentemente, alguém alterou a parte que falava sobre Economia na página de São Bento do Sul na Wikipédia – o texto ainda está lá hoje (01/06). Ao reparar melhor na página, pude ver que outro sujeito também alterou a parte de História, acrescentando uma porção de clichês de auto-exaltação e algumas informações imprecisas que há muito tempo são repetidas em todos os sites que falam da história do município.
As informações foram acrescentadas e misturadas àquelas que o Henry Henkels lá havia escrito – essas sim, de reconhecido valor histórico. Chega-se ao cúmulo de dizer que houve imigrantes do Tirol em São Bento – talvez alguém queira fazer média com os italianos.
Eis os trechos em questão e alguns palpites:
Os primeiros habitantes Áustria, Bavária, Prússia, Polônia, Saxônia, Tchecoslováquia e mesmo o Brasil eram os países de origem dos primeiros habitantes. (a informação não é totalmente incorreta, mas imprecisa, já que o que chamamos de Áustria, nesse caso específico, referia-se a Boêmia, que é exatamente o mesmo território que depois viria ser a Tchecolosváquia – ou seja, estamos falando do mesmo lugar. As demais origens estão corretas, com a ressalva de que o Brasil contribuiu com uma parcela muito significativa dos primeiros moradores de SBS, e que imagino inclusive terem sido maioria).
Enfrentaram uma realidade dura: mata virgem, floresta densa, povoada por inúmeros animais e pássaros. Foi preciso muita coragem e vontade de trabalhar para construir aqui uma réplica, ao menos parecida com a pátria que deixaram. (ninguém questiona as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes, mas certamente poderia ser evitado tamanho e tão vazio clichê, que parece, ainda, reforçar aquela velha história de que SBS é um “pedacinho da Alemanha”, coisa que pode ser dita por centenas de cidades no sul do Brasil, e por pessoas que, no fundo, não queriam estar no Brasil)
Trouxeram sua história, usos, lembranças, língua e saudade. Cultivavam os campos e a cultura expressada na música, literatura, no teatro. Um misto de lembrança e determinação de vencer compensava as imensas dificuldades. (além dos clichês, certamente a literatura foi incluída nesse rol de expressões culturais apenas por conveniência, pois, em sua imensa maioria, os imigrantes eram analfabetos).
E o pior de tudo:
“Os austríacos eram súditos do Império Austro-húngaro e dividiam-se entre: boêmios de língua alemã, oriundos da Boêmia (Böhmerwald – atual Repúplica Tcheca)” (até aqui, texto correto do Henry, mas cortado); tiroleses de língua italiana (trentinos), oriundos do Tirol (atual Província do Trentino – Itália).
Já falei aqui diversas vezes que não houve imigrantes italianos, do Tirol ou de outro lugar, nas primeiras levas de imigrantes, talvez um ou outro caso bem isoladíssimo, e que a etnia só começou a aparecer na cidade de forma mais constante com a vinda de alguns imigrantes do Paraná nas décadas seguintes.
É uma pena que uma história tão pouco conhecida, e revestida de senso-comum, como a nossa, tenha que passar por essas desinformações.
Atualização: a exceção da parte do Tirol, os demais erros e exageros são os mesmos que estão no site da prefeitura, inclusive citando os 134 anos do município – coisa que aconteceu em 2007. Deve ser texto de algum folder.
O unico tirolês que eu conheci aqui em São Bento foi o meu amigo Blasius Meyer (falecido em 1996), oriundo da parte de cultura alemã do tirol. Chegou no Brasil em 1956 ou 1957.