A primeira missa realizada em solo são-bentense aconteceu em 08.03.1876 (FICKER, 1973) e foi celebrada pelo Padre Carlos Boegershausen, vigário de Joinville. Daquela data em diante, o Pe. Carlos passou a visitar São Bento a cada três meses. Os registros de batizados e casamentos ocorridos nessa época foram registrados nos mesmos livros da Paróquia de Joinville. Apenas em 1879 foram criados livros específicos para os eventos de São Bento do Sul. O início dos registros de óbitos, no entanto, se daria somente cinco anos depois.
O primeiro livro de óbitos da Igreja Católica de São Bento tem início no dia 03.01.1884, quando o Pe. Carlos Boegershausen registrou o falecimento de um menino de seis dias, filho de Augusto Pilat e sua esposa Mônica Maurer. O último assento do livro tem a data de 31.03.1889, ocasião em que o mesmo padre anotou o óbito da recém-nascida Maria de Paula, filha de Miguel Baptista Fragoso e Honorata Ferreira. No total, existem 413 registros de óbitos no livro, que conta com 50 folhas, nas quais, em geral, estão escritos 4 assentos completos. Todos os registros foram feitos pelo Pe. Carlos. O estado de conservação do livro é bom e a sua leitura não apresenta maiores dificuldades.
O segundo livro de óbitos começa com o registro de falecimento de Pedro Data, filho pequeno de João e Antônia Data, ocorrido em 17.03.1889 – e, portanto, anterior ao último registro de óbito presente no livro anterior. Era comum que a ordem dos assentos não correspondesse a ordem de falecimento. Algumas vezes, o padre precisou fazer o que chamava de “aditamento”, referindo-se a um acréscimo posterior que, assim sendo, não seguia a ordem cronológica. O livro se encerra com o falecimento de Rosália Späth, de 86 anos, ocorrido no dia 03.07.1892. O Pe. Carlos Boergershausen escreveu os registros até o dia 07.12.1889, quando faleceu Joana Wielewski, de 5 meses de idade. A partir de então, e até o término do livro, eles passaram a ser feitos pelo Pe. Ricardo Dreicovitz.
A ordem das informações de cada assento de óbito anotado pelo Pe. Carlos obedecia, via de regra, a seguinte ordem: dia, mês e ano do falecimento (escritos por extenso), nome do falecido, condição social (nos registros anteriores à abolição da escravidão), sexo, idade, condição civil, profissão, nacionalidade, lugar do óbito, nome dos pais, local onde moravam, dia e local do sepultamento. Algumas vezes, o local de falecimento era citado logo após a data. Boa parte dos assentos não possui a totalidade dessas informações, conforme se verá.
No período compreendido entre 1884-1892, os dois livros de óbitos da Igreja Católica registraram a seguinte quantidade de registros:
Número Absoluto de Óbitos por Mês e Ano na Igreja Católica de São Bento do Sul
Período |
1884 |
85 |
86 |
87 |
88 |
89 |
90 |
91 |
92 |
Total |
Janeiro |
8 |
7 |
5 |
9 |
14 |
10 |
5 |
2 |
2 |
62 |
Fevereiro |
10 |
9 |
1 |
7 |
2 |
13 |
5 |
2 |
3 |
52 |
Março |
2 |
15 |
7 |
7 |
7 |
14 |
2 |
1 |
5 |
60 |
Abril |
10 |
6 |
4 |
5 |
9 |
5 |
5 |
2 |
0 |
46 |
Maio |
2 |
5 |
5 |
6 |
7 |
9 |
2 |
5 |
0 |
41 |
Junho |
4 |
6 |
2 |
8 |
3 |
2 |
6 |
1 |
0 |
32 |
Julho |
9 |
6 |
6 |
13 |
4 |
7 |
2 |
4 |
1 |
52 |
Agosto |
2 |
5 |
6 |
5 |
2 |
1 |
1 |
2 |
0 |
24 |
Setembro |
4 |
7 |
8 |
8 |
8 |
5 |
3 |
3 |
0 |
46 |
Outubro |
4 |
8 |
4 |
5 |
4 |
9 |
4 |
3 |
0 |
41 |
Novembro |
9 |
4 |
8 |
6 |
0 |
5 |
4 |
3 |
0 |
39 |
Dezembro |
7 |
10 |
13 |
4 |
6 |
6 |
4 |
2 |
0 |
52 |
Ano |
71 |
88 |
69 |
83 |
66 |
86 |
43 |
30 |
11 |
547 |
Caríssimo Henrique Fendrich, quero agradecer o seu meticuloso trabalho. Faço isto em razão de muitos esclarecimentos que você nos dá e também por um registro seu de meu interesse pessoal e de centenas de outras pessoas que desconhecem o fato.
Você diz “O primeiro livro de óbitos da Igreja Católica de São Bento tem início no dia 03.01.1884, quando o Pe. Carlos Boegershausen registrou o falecimento de um menino de seis dias, filho de Augusto Pilat e sua esposa Mônica Maurer”.
Na verdade, depois de um bom tempo vasculhando possíveis dados, descobir que se trata na verdade de Andrea Agostino Pilati, meu bisavô. Ele nasceu em 1849 na vila de Tassullo, Val di Non, Província de Trento, uma das duas províncias que constituem a Regione Autonoma Trentino Alto-Adige. Como sabemos, a região estava sob o domínio austríaco, assim como a Boêmia, para onde ele emigrou em busca de trabalho, provavelmente no final dos anos 1860 ou início dos anos 1870. Lá casou-se com a jovem Mônica. Observe-se que no “Trentino”, ainda hoje, várias comunidades são bilíngues (italiano-alemão), por isso integrou-se facilmente aos moradores da etnia alemã que residiam na Boêmia (atual República Tcheca), principalmente na divisa com a Baviera.
Despois de casados, embarcaram para o Brasil, junto com a família de Mônica: MAUERER (Maurer), Eustach e esposa Maria Tauschek, filhos Cäcilie (21), Emilie (13), Georg (9), Marie (7), Anna (5), Alois (2 ½). Andrea Agostino e Mônica repousam no cemitério de Rio Negro, Paraná. Detalhe: no Brasil, em quase todos os registros, ele aparece como August (alemão) e Augusto.
Andrea Agostino, Mônica e família constam da “Relação das pessóas, que conduz de Hamburg para Dona Francisca o barco Humboldt de 741 toneladas inglezas, de que é capitão H. D. Busch e consignatário C. A. Mathei entrado à Hamburg de 15 April de 1876.”, que desembarcaram em São Ffrancisco do Sul no dia 11 de junho de 1876. Mônica chegou grávida, pois o filho mais velho dela com Andrea nasceu em 18 de setembro de 1876, certamente já em São Bento. Trata-se de Augusto Pilati, batizado em 12 de novembro de 1876, tendo como padrinho Franz Schaffhauser (graças às suas referências, quero ver se consigo registros de nascimento e batismo). Augusto mudou-se para o Paraná, junto com o seu irmão André e outros descendentes dos passageiros do Humboldt, onde os dois casaram-se. Faleceu no dia 27.10.947 (Manduri, então Imbituva, divisa com Prudentópolis, Paraná). Augusto é pai de Gabriel Pilati (*05.03.1919 – †16.06.2007) e, portanto, meu avô paterno.
Deve-se registrar ainda que Andrea Agostino, já morando em Rio Negro (PR), ficou viúvo de Mônica (05.11.1895), tendo-se casado em seguida com a viúva Anna Kröppel Tauschek em 27.04.1896.
Preciso mencionar ainda que Andrea Agostino faleceu aos 69 anos em Rio Negro (PR) no dia 29,03,1918.