É um momento muito positivo para a historiografia de São Bento este em que se comemora os 139 anos da cidade. Tudo aquilo que durante décadas foi visto como certo e absoluto a respeito do nosso passado começa a ser revisto e ampliado em meio às novas possibilidades que a Internet oferece. Fontes importantes estão surgindo, como as anotações do viajante Hugo Zöller, os diários do imigrante Raymond Wöhl, as referências comerciais e econômicas no Almanak Laemmert, e diversas possibilidades de consulta nos arquivos digitais da Biblioteca Nacional.
Nunca foi tão fácil também levantar a história familiar dos personagens de São Bento do Sul e região, graças ao trabalho dos mórmons em digitalizar e disponibilizar registros civis e eclesiásticos do mundo inteiro – incluindo o norte da Boêmia, região que contribuiu com significativo número de imigrantes na cidade. Também é bastante positiva a recente busca pela interação com pesquisadores tchecos, que chegaram inclusive a traduzir o livro “São Bento no Passado” para a língua de lá. Essa troca de informações reforça o lado boêmio da história de São Bento, e não meramente alemão.
Temos acesso on line às listas de chegadas no porto de São Francisco do Sul, o que permite identificar nossos imigrantes. Fóruns de discussão bastante específicos se fazem presentes por toda a rede, favorecendo o contato e o compartilhamento de informações entre pesquisadores de diferentes partes do Brasil. Este blog, que tem como objetivo organizar e oferecer informações novas sobre o passado da cidade, está com número de acessos mensais acima de 3 mil, o que sugere um frequente interesse por informações históricas, e reflete a necessidade de serem oferecidos canais de compartilhamento.
Pensando nisso, foi criado há algum tempo um grupo no Facebook, na tentativa de deixar a História local mais próxima das pessoas que talvez não fossem naturalmente interessadas no assunto. O grupo tem sido bem sucedido na troca de informações, e muitos documentos, fotografias e assuntos têm sido levantados naquele espaço, chegando, inclusive, a pautar as postagens neste blog. As fotografias, inclusive, merecem especial menção, pois costumam chamar mais a atenção e fazem um certo sucesso nas redes sociais. Muitas imagens novas tem sido resgatadas sobre o passado de São Bento.
É verdade que este bom momento para se fazer história ainda não se refletiu na publicação de muitos livros. Também estamos bastante carentes de trabalhos acadêmicos a respeito do assunto, com algumas louváveis exceções. Em todo caso, o que se espera é que todas essas novas possibilidades possam ser trabalhadas de forma que nos 150 anos de São Bento do Sul, comemorados em 2023, possamos oferecer à comunidade um novo marco para a historiografia local.
Em tempo
Muito se fala sobre os 70 primeiros imigrantes, que subiram a Serra Dona Francisca e deram início à colonização da atual cidade de São Bento do Sul, no dia 23 de setembro de 1873, mas quase ninguém sabe quem foram eles. O nome de cada um deveria estar grafado no Monumento ao Imigrante na Praça Getúlio Vargas. Cito aqui todos eles:
Ferdinand Kaulfersch, Theodor Sill, Karl A. Richter, Ferdinand Warel, Anton Becker, August König, August Natzke, Jacob Neubauer, Ludwig Selke, Ferdinand Mayer, Louis Guthmann, August Schroeder, Gottlieb Engel (Engler), Johann Glade, Friedrich Mielke, August Schneider, Wilhelm Huemmelchen, Johann Ziemann, Wilhelm Redel, Karl Becker, Anton Procop (Brokopf), Wilhelm Neumann, Wilhelm Ruske, Joseph Beierl, Georg Stueber, Ignatz Rohrbacher, Georg Zipperer, Anton Duffeck, Ignatz Pablowski, Martin Leck, Joseph Jelinski, Theodor Frick, Johannes Hinz, Thomas Cherek, Jacob Pillat, Casimir Waldmann, Joseph Brezinski, August Grimm, Ony Turmannkiewicz, Johann Hardt, Michael Karaschinski, Michael Witt, Friedrich Hackbarth, August Porges, Anton Jeroschewski, Heinrich Marschalk, Michael Gatz, Anton Zipperer, Johann Rossdeutsch, Georg Schielein, Franz Lella, Anton Jaschefsky, August Küchler, Wilhelm Berutzky, Felix Marschalk, Joseph Konkel, Joseph Niemezuck, Vicentz Czapiewicz, Joseph Faralich, Joseph Dziedzik, Franz Dolla, Joseph Wegrzyn, Thomas Fuhrmann, Brunislau Harz, Christian Marre, Gottlieb Ledebour, Mathias Piritsch, August Leffke e Octavian Tzerner.
Acho que é importante também mostrar outros sujeitos, geralmente invisibilizados pela história oficial ou por aqueles que buscam legitimar um passado puramente alemão, tais como emigrantes de outras nacionalidades, africanos (incluindo escravos e alforriados) e as mulheres.
Sem dúvida. Eu inclusive acho que sou o único a se preocupar com os brasileiros e com os escravos em São Bento. Tenho anotado o nome de 10 proprietários e quase 20 escravos habitando a região de São Bento, inclusive com o caso de uma que foi sepultada no Cemitério dos Imigrantes. Você pode encontrar alguma coisa no arquivo do blog. Dos brasileiros, tenho pesquisado a origem de todas as famílias, em arquivos que ultrapassam as 400 páginas. Em geral ambos os temas foram totalmente abandonados pelos historiadores locais, e você lembrou muito bem.
Henrique, seu trabalho é muito importante para o resgate da memória dos sãobentenses, e por isso, precisamos pensar num meio de preservas os aquivos digitais para a posteridade em um site ou algo parecido, que possa ser acessado e redescoberto, como você fez, por outros interessados.