
Luiz Thomé morreu sozinho, vítima de desnutrição. Sua esposa só descobriu dois meses depois.
Poucos dias antes do Natal de 1905, mais precisamente no dia 21 de dezembro, Joaquina Fragoso Cavalheiro, de 35 anos, deu à luz seu quinto filho, o primeiro homem. Era o dia São Tomé, o apóstolo, e por isso o nome escolhido para criança foi Luiz Thomé Fragoso. Seu pai, Saturnino Fragoso de Oliveira, era um simples lavrador, de 38 anos, filho mais velho do negociante Generoso Fragoso de Oliveira, tido por muitos ainda hoje como fundador da localidade de Fragosos, em Campo Alegre. Naquele ano de 1905, Generoso ainda vivia, com 60 anos, cinco a mais que sua esposa Leopoldina Maria de Almeida. Os avós maternos do pequeno Luiz Thomé, no entanto, chamados Felippe Soares Fragoso e Flora Lina Cavalheiro, já eram falecidos. Os pais de Luiz Thomé eram parentes entre si. A mãe de Generoso (portanto, bisavó de Luiz Thomé) , chamada Francisca Soares, ainda vivia naquela oportunidade, com 78 anos de idade.
Saturnino Fragoso de Oliveira e Joaquina Fragoso Cavalheiro já haviam tido até então as filhas Lina Maria Magdalena (1896), Christina Virgilina Paulina (1898), Catharina Juliana (1901) e Maria Clara (1903). Três anos depois, ainda teriam o filho André José. Luiz Thomé Fragoso passou a sua infância e cresceu na própria região de Fragosos, onde nasceu. Não tinha completado ainda 18 anos quando viu o pai falecer, em 1923, sendo o avô Generoso ainda vivo. No ano seguinte, também o avô faleceu. Nenhum deles teve oportunidade de acompanhar o casamento de Luiz Thomé, ocorrido civilmente em São Bento do Sul no dia 21 de setembro de 1929, um sábado.
Sua noiva chamava-se Rozina Hannusch. Tinha 20 anos na ocasião. Era filha de Johann Hannusch, nascido na Boêmia, e imigrado ainda criança ao Brasil, da mesma forma que sua esposa Barbara Mühlbauer, nascida na Baviera, e imigrada pelo mesmo navio no ano de 1877. Embora tenham primeiro se estabelecido na Estrada dos Banhados, em São Bento do Sul, membros das famílias Hannusch e Mühlbauer acabaram se mudando para a região de Fragosos, onde provavelmente Rozina veio ao mundo, e também onde, ao que tudo indica, deve ter se encontrado com Luiz Thomé, despertando-lhe o interesse que resultaria em casamento.
Deste casamento, nasceriam cinco filhos: Cristina, Adelina, Carlos, Bernardo e Otília, a única que ainda vive na presente data. Luiz Thomé Fragoso também era apenas um lavrador, mas tinha considerável quantidade de terras, algumas no lado catarinense e outras no lado paranaense do Rio Negro, heranças ainda do pioneirismo de sua família na região. Sofria de uma enfermidade no intestino que lhe causava diarreias e até mesmo hemorragias, buscando tratamento nas flores ou folhas de tanchagem.Não foi essa, no entanto, a enfermidade que fez com se deslocasse até Curitiba.
Nos primeiros anos da década de 50, Luiz Thomé Fragoso vivia separado de sua esposa Rozina Hannusch, por motivos ainda não esclarecidos. Vivia na companhia da irmã Christina, casada com José Paulino Baptista, com quem morava no lado paranaense do Rio Negro. Luiz ainda morava lá quando começou a sofrer de hidropisia em suas pernas – doença que também afetaria Christina. Rozina, sabendo da enfermidade, pediu que fossem até a casa de José Paulino para verificar se Luiz Thomé não queria voltar pra Fragosos, se dispondo a cuidar dele. Luiz Thomé teria negado, alegando uma consulta ou viagem já marcada para Curitiba. O próprio José Paulino teria se encarregado de levá-lo para lá.
Já na capital paranaense, foi internado possivelmente na Santa Casa. Para lá se dirigia de vez em quando, durante suas viagens a trabalho, Narciso Ferreira da Silva, genro de Luiz Thomé Fragoso, casado com sua filha Cristina, a fim de saber novidades sobre o seu estado de saúde. Aparentemente não tinha acesso a ele em sua visitas, sendo apenas informado de como estava. Não se sabe por quanto tempo durou esta situação. Um dia, em certo mês de julho, Narciso foi ao hospital perguntar sobre Luiz Thomé e a mulher que o atendeu, depois de uma consulta aos registros internos, informou: “Este homem faleceu há dois meses”.
Ao que tudo indica, e pelo que uma série de referências cruzadas nos permite concluir, Luiz Thomé Fragoso faleceu no Hospital Nossa Senhora da Luz, em Curitiba, no dia 24 de maio de 1956, uma quinta-feira. Seu registro de óbito deixa claro que ninguém sabia muita coisa sobre o seu passado em Santa Catarina. Tinham a informação de que fora casado, mas não sabiam com quem, e nem se chegara a ter filhos. Morreu longe de todos, vítima de caquexia, ou seja, uma desnutrição severa, causa aparentemente alheia ao problema inicial que o fez se internar em Curitiba. Foi sepultado no Cemitério do Boqueirão, certamente sem qualquer tipo de cerimônia e tampouco identificação para o seu túmulo. Praticamente como indigente.
Ouvindo a notícia inesperada, Narciso Ferreira da Silva voltou a Santa Catarina, passando a informação à esposa, filhos e demais familiares de Luiz Thomé Fragoso. Algum tempo depois, Narciso, na companhia de outra testemunha, retornou a Curitiba para conseguir uma cópia do registro de óbito de Luiz Thomé. O documento era necessário para a venda de terras que Luiz Thomé possuía no Paraná, o que foi feito em seguida. As muitas terras que possuía na localidade de Corredeiras também acabariam vendidas, inclusive à custa de muito logro contra a viúva Rozina Hannusch. Com o passar dos anos, os descendentes que permaneceram em Fragosos viram suas posses reduzidas e hoje vivem bastante modestamente no lugar.
E este foi o triste fim de meu bisavô Luiz Thomé Fragoso.
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