Recentemente, descobri na internet uma carta de Martim Zipperer escrita aos seus pais no ano de 1929, quando esteve na Boêmia. A carta estava escrita em tcheco, disponibilizada em uma espécie de biblioteca da República Tcheca para assuntos alemães. Escrevi para esta biblioteca e eles me encaminharam a versão original, na língua alemã, mais fácil de ser compreendida. Henry Henkels fez a tradução completa e a publicou em seu blog. Esta é a mais antiga visita conhecida de um são-bentense à terra dos seus antepassados, e o texto é bastante singular e interessante, especialmente em relação à receptividade. Em 1938, o irmão de Martim, Jorge Zipperer, teria um experiência de quase três meses nesta mesma região boêmia. Oportunamente escreverei sobre a viagem de Jorge.
Confira a CARTA DE MARTIM ZIPPERER NABOÊMIA.
Conforme deliberação tomada pelos dirigentes da Empresa de Jorge Zipperer e Cia., resolveu-se que seu irmão Martim, na época com a idade de 40 anos, iria à Alemanha.
A situação em que a Empresa se encontrava à época de acordo com a narrativa de Jorge era a seguinte:
“Para a confecção de poltronas para cinema e teatros necessitávamos de madeira muito larga sem defeitos para encostos e assentos bem como ainda para os assentos de cadeiras de imbuia e encostos de certos tipos como por exemplo dos nºs. 5 e 25. As madeiras de imbuia devido o racho natural e outros defeitos, bichado, etc., não produziam muita madeira larga sem defeito, e no serrar embora sempre termos mantido um estoque de cerca 1.000 à 1.500 metros cúbicos serrados, lutávamos com falta de tábuas largas e boas para este fim ao passo que para os pés de frente o traseiro produzia-se em grande quantidade. Há muito ventilamos a aquisição de uma máquina descascadeira “Schaelmaschine” e de muitas fábricas alemãs tínhamos catálogos, prospectos e preços, afim de cortar filhas e fazer madeira folheada aqui vulgarmente denominada madeira compensada. Ficou resolvido que no ano seguinte, caso os negócios não piorassem, Martim seguirá para a Europa afim de estudar e adquirir o desejado maquinário. No momento de importar máquinas e tecnologia, envolviam seus contatos na Alemanha.
O Estado de São Paulo e outros cada vez exigiam mais as nossas cadeiras e carteiras escolares e os nossos títulos eram resgatados pontualmente tanto por nossos representantes Penteado como também por Zieglitz.
Agora a situação política do país era de alta confiança, reinava grande contentamento com o Governo proveitoso do benemérito Presidente da República Dr. Washington Luiz, iniciado em 1926, com mandato até o ano de 1930, a conjuntura econômica trouxe reflexos positivos que também vieram a impulsionar as atividades de nossa Empresa.
Em 01 de julho (segunda-feira), Martim que tinha embarcado para a Europa, chegou nesta data em Hamburgo, sendo recebido pela firma Aron, Bauer & Co., da qual desde 1924 comprávamos e importávamos muito material. Esta viagem desde princípio do ano foi planejada e realizada no vapor “Cap Arcona”, que zarpou do Rio de Janeiro no dia 16 de junho. Jorge e Martim seguiram antes para São Paulo consultando Penteado e Zieglitz que animaram imensamente como também o fizeram Kastrup sócio de Penteado.
Martim nos 78 dias que ficou na Europa visitou diversos estabelecimentos do ramo em Hamburgo, Berlim, Leipzig, Chemitz, Viena, Windischgarsten (Áustria) e Krefeld. Todo este percurso fez em companhia do Sr. Walter Emnrich, funcionário da firma Aron, Bauer & Co. que lhe foi ótimo companheiro e amigo. Contratou a máquina descascadeira com todos os pertences da firma Kappel em Chemitz pelo preço de 2.500 Libras Esterlinas.
A capacidade da descascadeira é para toras de 1,70m de comprimento por 1,20m de diâmetro, servindo para beneficiamento de qualquer qualidade de madeira e para folhas de 0,5 até 8ml de grossura.
O nosso amigo Max Morgenstern emprestou Rs. 10:000$000 (dez contos de réis) para Martim efetuar a viagem.
Martim durante esta viagem visitou durante três dias a Bohemia (Boemerwald) a terra de nossos pais e avós encontrando parentes e viveu horas felizes entre este povo modesto e simples. Esteve na cidade de Neuern e as aldeias de Rotenbaum, Flecken e Hammern. Foi alvo de muitas gentilezas e obrigado a prestar inúmeras informações sobre parentes e amigos imigrados para a colônia de São Bento nos anos de 1873 à 1879. Perante numerosa assistência fez uma conferência relatando a vida dos colonos patrícios no Brasil, sua produção e meios de vida, plantações e colheitas, erva-mate e madeira, as felicidades e os sofrimentos.
Nesta época Martim em sua viagem vivenciou ser Hitler o líder supremo do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP – 1921/1945) tendo assumido a responsabilidade pela ideologia e política partidárias.”
Espero que com o escrito acima, tenhamos enriquecido um pouco mais sobre a viagem de Martim à Bohemia, realizada posteriormente por Jorge (1938) e que também tive o prazer de visitar no ano de 1975. Mas isto já são outras histórias, que mais tarde poderemos comentar… .
Abraços.
Osny Zipperer