Crimes planejados em São Bento
1897 foi um ano marcado por homicídios em São Bento. Em maio, morreu assassinado João Filgueiras de Camargo, antigo líder republicano. Atribuíram ao caso motivações políticas e, depois, amorosas. Em agosto foi a vez da morte de Albert Malschitzky. Em ambos os casos esteve envolvido João Elias Fragoso, sobrinho de João Filgueiras de Camargo, e aparentemente capanga de Joaquim da Silva Dias.
Os primeiros depoimentos prestados pelas testemunhas no julgamento do assassinato de Albert Malschitzky revelaram uma série de planos de crimes, violências e mesmo assassinatos atribuídos a Joaquim da Silva Dias, os quais poderiam ter tornado 1897 um ano ainda mais sangrento.
Pelo que se depreende dos depoimentos de Serapião Marcondes da Fonseca e Gregório Pereira de Oliveira, Joaquim pretendia fazer o seguinte:
– Assassinar o então prefeito Paulo Parucker, pois, assim como Malschitzky, ele também havia assinado os telegramas contra Joaquim da Silva Dias.
– Depor a Intendência Municipal de São Bento nem que isso tivesse que custar muitas vidas, tirando de lá os alemães e colocando os brasileiros. O Capitão Joaquim da Silva Dias seria o chefe do partido na cidade. Segundo ele, os alemães eram iludidos pelo Dr. Wolff.
– Assassinar o juiz de Direito Vasco de Albuquerque Gama, por ter ele publicado acusações de crimes contra Joaquim no jornal Legalidade. Quando Vasco passasse pela estação telegráfica, de noite, levaria um tiro à traição do próprio Joaquim da Silva Dias, que possuía “uma boa Manulicher e que com ela não errava tiro”, e que tinha prática de matar. Para escapar da justiça, eles se esconderiam em depressões do terreno.
– Arrombar a casa e assassinar, ou ao menos dar uma surra, no juiz de Direito Manuel Adeodato de Souza, crimes planejados por Joaquim da Silva Dias e Francisco Bueno Franco. O crime aconteceria à meia-noite, quando não houvesse mais pessoas acordadas. Para isso, contariam com um grupo de homens armados “de espada e Comblain”. Bateriam na casa do juiz Adeodato levando uma folha de papel em branco, como se fosse um ofício. Com isso esperavam que ele abrisse a porta e, ao fazê-lo, o grupo o arrastaria para rua com a intenção de “surrarem de arreador até matar e, caso ele se levantasse com armas, o matariam então a bala”. O motivo era que o juiz Adeodato havia aceitado a queixa de que João Elias Fragoso havia assassinado João Filgueiras de Camargo, em maio de 1897. Caso o juiz Adeodato gritasse pedindo socorro, os homens de Joaquim taparia a boca dele com um lenço. Acreditariam que “uma vez mortos mais dois ou três, ficaram os outros intimidados”, e assim não haveria continuidade no processo de João Elias.
– Bater em casa do Dr. Wolff e de Manoel Tavares e, se a mulher deste gritasse pedindo socorro, também tapariam a boca com um lenço.
– Acabar “a cacete” com o Tribunal em que o Capitão Joaquim da Silva Dias iria responder pelo crime de “ofensas físicas” contra o tabelião Aristides Fernandes de Barros. Para isso, chamaria um grupo de cinco caboclos armados vindos do sertão, segundo Serapião, ou “oito baianos” vindos da Lapa, segundo Gregório.
– A Francisco Bueno Franco e Manoel Soares Bueno, atribuiu-se ainda o plano de dar uma surra no Dr. Philipp Maria Wolff por conta de alguns versos publicados em seu jornal Legalidade, o que só não foi realizado, segundo Gregório Pereira de Oliveira, porque na última hora José da Cruz entrou na casa do Dr. Wolff atrás de remédios.
Ainda segundo Gregório, a culpa de todos esses crimes seria atribuída aos maragatos. Gregório declarou ter sido ele próprio vítima de tentativa de homicídio, para que não descobrisse todos os planos que estavam sendo feitos. Segundo ele, as conferências para esses planos eram feitas na casa de Generoso Fragoso de Oliveira – meu tetravô. Generoso morava em Fragosos e, ao que parece, mantinha lá um negócio de secos e molhados (talvez mais molhados do que secos, ou seja: um boteco). Provavelmente por isso, disse ainda que “não havia planos que ele Generoso não fosse sabedor”. As ordens, no entanto, eram dadas na casa de Joaquim da Silva Dias.
Os piquetes do Capitão Joaquim da Silva Dias
Além dos crimes planejados, os depoimentos de Serapião Marcondes da Fonseca e Gregório Pereira de Oliveira dão conta de “piquetes” que serviam aos interesses do Capitão Joaquim da Silva Dias. Assim é que disseram que seriam chamados caboclos “vindos do sertão” e “baianos” vindo da Lapa. Em determinado momento se fala em um piquete que andava “pelo caminho do Rio Preso”.
Serapião cita entre os membros desses piquetes Florentino Ribeiro da Costa, genro de Joaquim da Silva Dias, e Antônio Barbosa Cardoso. Gregório Pereira de Oliveira afirmou que o piquete organizado por João Elias Fragoso a fim de matar o juiz Adeodato era composto por ele próprio, Manoel Soares Bueno, Estellino Fernandes d’Oliveira, Olympio dos Anjos Costa, José de Paula Machado, Juvêncio de Lima e Antônio Baptista Fragoso.
O mesmo Gregório afirmou que os homens que vinham receber ordens do Capitão Joaquim da Silva Dias em sua casa eram Jordão Cavalheiro, Manoel Soares Bueno e Cândido José da Rocha. Disse ainda que Antônio Baptista Fragoso estava arrependido de acompanhar o grupo, com medo de que no futuro os planos fossem descobertos e ele acabasse mal. Manoel Bueno quis dar uma surra em Antônio, por manter relações com Antônio Cordeiro – sem que saibamos qual problema havia nisto.
Tal foi o teor desses depoimentos e a tal a imagem que eles criam de Joaquim da Silva Dias.
…continua…
Pingback: Um vilão na história de São Bento – Parte II | São Bento no Passado
SERAPIÃO MARCONDES DA FONSECA, É IRMÃO DE ROSENDO MARCONDES [DA FONSECA,] MEU BISAVÔ QUE SUMIU DOS REGISTROS APOS 1930 E FOI FIGURA IMPORTANTE NA REVOLUÇÃO FEDERALISTA. CASO ALGUEM O ENCONTRE EM ALGUM REGISTRO AGRADEÇO.