Tradicionalmente, atribui-se o nome de Oxford à expressão alemã “der Ochsz ist fort”, ou “O Ochsz se foi”, referindo-se ao engenheiro agrimensor Theodor Ochsz que havia instalado os seus ranchos exatamente na localidade que herdou o seu nome. Com o passar dos anos, teria surgido a corruptela “Oxford”. Essa explicação tem sido repetida por quase todos os historiadores, mas é preciso fazer algumas verificações.
Primeiro, parece certo que o termo “Ox” se refere, de fato, a Theodor Ochsz. Este agrimensor alemão veio por três vezes à região de São Bento, em 1863, 1867 e 1876, nas duas primeiras a serviço do Paraná e na última à serviço do Governo Imperial, chamado que foi para resolver impasses relacionadas à ocupação de terras da Colônia Dona Francisca por paranaenses. Ochsz reconheceu como legítimas apenas as posses de Francisco Antônio Maximiano, o Chico David, e Antônio dos Santos Siqueira.
Não procede a informação repetida algumas vezes de que o próprio Ochsz teria vendido lotes de terra aos paranaenses. O Paraná de fato se aproveitou das medições feitas por Ochsz para facilitar a ocupação da região por paranaenses, mas não foi Ochsz quem os vendeu, o que se comprova pelo fato de que, na sua última vinda, ele não chegou a reconhecer a posse de quase nenhum deles. Ochsz se dedicou a trabalhos como esse em São Bento durante os primeiros meses de 1876, indo embora em maio.
O Ochsz chega: anúncio na imprensa paranaense
Como não estava meramente à serviço do Paraná e não pretendia prejudicar os negócios da Colônia Dona Francisca (a quem inclusive reportou os resultados das suas medições), não há sentido na insinuação, presente em obra de José Kormann, de que Ochsz teria fugido de São Bento, na calada da noite. Essa versão é fantasiosa. Ochsz deixou São Bento porque havia concluído os seus trabalhos, nada mais do que isso.
Ao ir embora de São Bento, deixou o seu acampamento provisório, constituído de alguns ranchos, no atual local de Oxford. A prática de construir esse tipo de abrigo em suas viagens a trabalho (e depois abandoná-los) parecia ser frequente no trabalho de Ochsz. Em 1879, por exemplo, há na imprensa paranaense a notícia de que um rancho de madeira construído para a comissão a cargo do engenheiro Theodor Ochsz em São João do Triunfo/PR estava sendo colocado à venda pela Tesouraria da Fazenda. No caso dos ranchos construídos em São Bento, os colonos trataram de desmontá-los e, após levar a madeira até o centro da colônia, fizeram dela a primeira escola do núcleo.
O fato é que o Ochsz “foi-se”. Além de parecer estranho que uma expressão como essa possa ser estendida à localidade, há algumas evidências sugerindo explicação diversa. A primeira menção ao nome de Oxford que encontramos é a de um batizado católico:
Percebe-se que ali está escrito “Ochsenfurt”. O termo “furt” (como o de Frankfurt) pode significar uma passagem sobre um córrego raso ou até mesmo uma trilha, como lembrou a pesquisadora Brigitte Brandenburg. Poderia, pois, ser algo como “passagem do Ochsz”. Este seria um significado realmente geográfico, ao contrário do “ist fort”. Há ainda a possibilidade de Ochsen se referir a bois, mas, a princípio, rejeitamos essa hipótese, pois seria muita coincidência que a passagem dos bois estivesse justamente na mesma localidade em que o agrimensor Theodor Ochsz levantou os seus ranchos.
Soma-se a isso o fato de que em março de 1876, quando Ochsz ainda estava na região, o imigrante Augusto Henning batizou outra filha, e na ocasião aparece simplesmente como morador da Estrada da Serra. Ou seja, o nome parece ter sido atribuído ao lugar justamente no período de tempo que corresponde à saída de Ochsz da cidade.
O fato de os moradores do centro de São Bento se lembrarem do rancho abandonado por Ochsz a quatro quilômetros do núcleo da povoação também indica que ele era conhecido o bastante para que o local em que morava herdasse o seu nome.
Também é preciso chamar a atenção para o fato de que este termo “Ochsenfurt” passou pela mediação do padre Carlos Boegershausen, que não vivia em São Bento, apenas vinha para a colônia no intervalo de alguns meses, e que, portanto, não podia saber das esquisitas motivações dos colonos para batizar alguma localidade. Poderia ser o caso de ele ter ouvido um nome e escrito da maneira que lhe pareceu correta, mas que talvez não fosse exatamente a mesma pela qual os colonos o conheciam.
A hipótese de um nome “Ochsenfort”, em vez de “Ochsenfurt”, como disse o padre, torna-se plausível a partir de um documento resgatado por Brigitte Brandenburg. Trata-se de um registro de pagamento de lote da Companhia Colonizadora no final de 1877. Há uma observação sobre o lote de Georg Schroeder, feita pelo contador, que, traduzida, diz o seguinte: “Por 200 mogos de terra em São Bento, na estrada construída após as 13 seções de Ochsz, que ainda não tem nome”.
Lote de Georg Schröder: na estrada construída após as 13 seções de Ochsz
A inclusão do termo “após” (nach, no original) em relação às terras de Ochsz levanta a hipótese de que o “Fort” de Oxford pudesse ser originalmente “Forth”, que quer dizer a mesma coisa, “após” ou “adiante”. Nessa visão, “Ochszforth” designaria um local específico após as terras medidas por Ochsz. Essa visão nos parece bastante plausível.
Também aí, no entanto, há certos problemas. Em verdade, não temos nenhum mapa das medições feitas por Ochsz durante a sua estada em São Bento para ter alguma ideia do que viesse a ser uma seção, para que soubéssemos o que poderiam ser 13 delas. O terreno de Georg Schröder citado na listagem de Josef Blau, conforme lembrado por Henry Henkels, era o de nº 351 que ficava na Estrada Paraná, nos limites da colônia, entre os bairros de Lençol e Ponte dos Vieira – a cerca de 7 km da atual Oxford.
Também não sabemos se o que não tinha nome ainda era a estrada ou o local em que se situavam as tais 13 seções de Ochsz.
Não nos é permitido, portanto, assegurar ainda que essa, como também as outras, seja a versão verdadeira sobre a origem do nome. É preciso encontrar novos documentos antes de chegar a uma conclusão. Tudo o que já temos levantado, no entanto, permite que a história “oficial” sobre a origem do nome já seja, no mínimo, questionada.
Com todas essas possibilidades, como é que teria vingado a explicação do “Der Ochsz ist fort”? Se de fato não for esta a explicação para o nome de Oxford, podemos aventar a hipótese de um espírito brejeiro tenha feita um trocadilho por ocasião da partida do engenheiro, o que acabou por rebatizar o lugar. De qualquer modo, quem quer que tenha feito a sugestão dessa explicação o fez muito cedo, pois é a partir das memórias do imigrante Josef Zipperer, coligidas inicialmente na década de 10, que ela aparece.
Quem sabe se, com a descoberta de nossas fontes, a verdade possa vir à tona.