Videira

Encontramos uma foto de Sebastião da Silva e dois filhos, ainda crianças.

Era um irmão mais velho do meu avô. Havia se mudado com a família para Videira. Desde então, meu avô não teve mais notícias dele – era possível que já tivesse morrido.

Estávamos com sorte: também encontramos um papel perdido, e nele estava escrito um endereço de Videira – alguém, há muito tempo, havia anotado onde morava Sebastião.

Decidimos tentar a sorte: minha mãe escreveu uma carta e anexamos uma cópia da fotografia.

Alguns dias depois, recebemos a ligação de uma filha de Sebastião. Com surpresa e alegria, a família havia recebido a carta. Contou as novidades: seu pai havia falecido ainda em 1989.

E contou também que a sua mãe, Anita Went, quando recebeu a carta e a foto de seu falecido esposo, se lembrou de tantas coisas, acontecidas há tanto tempo, e sentiu tanta saudade de tantas pessoas que não via há tanto tempo, que não pode fazer outra coisa senão chorar de emoção.

Naquela noite, Anita nem conseguiu dormir.

Mariano

Mariano tinha 36 anos – e não sei como chegaram a essa conclusão. Apenas quatro coisas são sabidas sobre Mariano: era homem, brasileiro, livre e morreu. O resto é um mistério – era um mistério para a época e se tornou um mistério maior ainda 125 anos depois.

O padre foi claro: nada consta sobre o estado civil e a profissão de Mariano. E, no entanto, ocorreu de Mariano vir a morrer em São Bento.

Assassinado na Estrada Dona Francisca.

Ora, tenha ele morrido assassinado, de espasmos, de tosse comprida ou afogado no tanque, o destino era o mesmo: havia de ser sepultado.

Dois dias depois, em 02 de Março de 1884, o desconhecido Mariano foi sepultado no Cemitério Católico de São Bento. No mesmo cemitério descansavam muitos dos pioneiros imigrantes da cidade. Mas hoje, o Cemitério não existe mais – virou praça. E Mariano pode se orgulhar de ser tão anônimo quanto qualquer outro que lá descansa eternamente.

Ayurveda

Eu estava com um bloco de notas na mão e perguntei o seu nome.

– Astrid Pfeiffer.

– Ah, você é de São Bento então?

O sobrenome não deixava dúvidas: ela era.

Um pequeno momento a ser registrado: em Curitiba, na manhã de um sábado, dois são-bentenses, ele universitário e ela nutricionista, se encontraram numa clínica em que o primeiro fazia uma reportagem sobre o Ayurveda – especialidade da segunda.

Em nome de tão estimada coincidência, rendamo-nos à Terapia Ayurvédica.

Seca

Em 1963, Arno Fendrich se queixava: o teatro estava sendo desbancado pelo cinema, e o cinema pela televisão. E o governo brasileiro tinha coisas mais importantes para pensar do que o teatro. Situação muito diferente daquela que acontecia em Roma, Nova York, Paris e Londres. Nesses lugares, o teatro ainda rendia – e rendia muito. Mas no Brasil, além de não auxiliar, o Governo ainda tirava aquilo que o teatro havia conquistado – negava-se apoio a um movimento de educação e cultura.

Uma comparação simples e real: nos grandes centros europeus, o teatro era uma grande magazine, caminhando a passos de gigante. No nosso país, o teatro era uma lojinha. E o povo ou governo que não apóia o teatro está morto – no mínimo moribundo. Arno segue essa linha até falar das dificuldades com o seu grupo de teatro em São Bento. Em todas as apresentações, houve muita gente, muito movimento, muito movimento – e seria maior se houvesse dinheiro, muito dinheiro, algum dinheiro, pouco dinheiro.

Ora, estamos falando da melhor época para o teatro na história da cidade. Não sei em que pé está a situação hoje. Sei apenas que, em 1963, Arno terminava de forma contundente: “Terra sem teatro, é sertão sem chuva”.

Teria a seca chegado a São Bento do Sul?