Wisconsin é o estado americano que mais teve imigrantes da Boêmia – da mesma forma que São Bento do Sul é a cidade brasileira com maior número de boêmios, condição sempre ignorada ao longo da nossa história. Os boêmios de Wisconsin vinham de diferentes partes, e uma das principais era a região de Pilsen. É justamente a região que entendemos como Böhmerwald, uma das que mais contribuiu com imigrantes para São Bento. São de lá famílias como Linzmeyer, Grosskopf, Rank, Schreiner, Zipperer, Liebl, e tantas outras que existem aos montes também em Wisconsin.
Essa imigração nos Estados Unidos foi maior entre 1848-1880. Hoje Wisconsin disputa com a Dakota do Norte o título de estado mais alemão, mas também vieram muitas famílias tchecas – a outra metade da Boêmia. As duas culturas sempre estiveram próximas, ainda na Europa, alternando momentos de harmonia e conflito armado. Em Wisconsin, os boêmios estabeleceram em municípios como Manitowoc, Kewaunee, Oconto, La Crosse, Adams e Marathon.
E por que Wisconsin? Além de ter bons portos próximos, o solo da região se adaptou rapidamente aos lavradores. Embora o inverno fosse mais frio do que na Europa, muitas das culturas encontraram lá espaço para crescer. Não havia competição com o trabalho escravo e os impostos eram baixos. A cidadania americana podia ser obtida em apenas um ano. Estrategicamente, havia um oficial em Nova York atraindo imigrantes para Wisconsin.
Os anúncios eram atraentes: “Venha! Em Wisconsin todos os homens são livres e iguais perante a lei. A liberdade religiosa é absoluta é não há a menor ligação entre igreja e estado. Em Wisconsin nenhuma qualificação religiosa é necessária para cargos e para votar. Tudo o que é exigido é que homens tenham 21 anos e tenham vivido pelo menos um ano no estado”. Para os boêmios de São Bento não houve preocupação com a religião, pois era a mesma professada pela maioria no país.
Em pouco tempo surgiam as primeiras sociedades boêmias nos Estados Unidos – São Bento teve a sua também. No começo dos anos 1900, um artigo comentava que a obrigação dos boêmios de Wisconsin com seus lares e famílias ofuscava qualquer tentativa de ser tornarem líderes políticos ou figuras públicas notáveis. Contentavam-se com um gradual sucesso financeiro como trabalhadores, fazendeiros, mecânicos e homens de negócios. É curioso que, por esses ou outros motivos, também os boêmios de São Bento pouco ou nada se interessaram por política nos primeiros anos da cidade. Também é curioso que os democratas vençam por lá.
Temos visto recentemente uma aproximação dos tchecos com São Bento do Sul. Seria bastante produtivo para a nossa história se também estreitássemos relações com nossos primos ricos do norte.