Pastor Czekus em São Bento

Em setembro de 1897, a comunidade evangélica de São Bento do Sul recebeu a visita do pastor húngaro I. I. von Czekus, que veio com o objetivo de fazer uma coleta para o orfanato que uma Comunidade Pastoral da região de Brusque pretendia criar em Brüderthal, hoje interior de Guaramirim/SC.  Com esse objetivo, Czekus buscava arrecadar em todo o estado 9.ooo.ooo réis.

Ao voltar da coleta, estava previsto que Czekus ministrasse um culto na Estrada da Serra, região ocupada principalmente por famílias evangélicas em São Bento do Sul. No entanto, a comunidade local esperou em vão, pois o pastor não apareceu.

No outro dia, encontraram na beira da estrada o seu chapéu, e não muito longe o seu cavalo, amarrado no mato. Pensou-se logo em latrocínio. Iniciaram-se buscas para encontrar o cadáver do inditoso homem. O pastor Wilhelm Lange, de Brusque, recebeu um telegrama que cogitava o assassinato de Czekus.

Diante disso, foi avisar os seus parentes, e qual não foi a sua surpresa quando  um deles afirmou que ele havia fugido com o dinheiro. E, de fato, no dia 22 daquele mês, um telegrama confirmou que Czekus havia sido preso em Santos. Um homem de Joinville o havia reconhecido no vapor, embora estivesse disfarçado e alegasse ser um encardenador chamado Neumann.

Czekus foi trazido para a prisão em Joinville. Alegou ter agido sobre uma loucura momentânea, que já o atormentara anteriormente. O dinheiro foi confiscado e o pastor foi posto em liberdade. Mudou-se então para o Paraná e sofreu grande penúria, até conseguir emprego nas indústrias Renaux, em Brusque, e posteriormente assumir um grande negócio em Blumenau, embora possivelmente não encontrasse paz interior.

E Brüderthal não teve um orfanato.

[Referências: ADAMI, Luiz Saulo. Testemunho de fé: memorial do pastor Wilhelm Gottfried Lange = Ein Leben im Glauben : Memoiren des Pastors Wilhelm Gottfried Lange. Blumenau : Nova Letra, 2003. 209 p. + 216, il.]

Um Testemunho sobre o Pastor Quast

O Pastor Wilhelm Gottfried Lange, de Brusque, escreveu uma espécie de diário, publicado por Luiz Saulo Adami sob o título “Testemunho de fé: memorial do pastor Wilhelm Gottfried Lange”. Nas páginas 122 e 123 desta obra, que me foram cedidas pela amiga Camila Seibt, Lange comenta sobre um encontro que teve com o Pastor Wilhelm Quast, primeiro pastor da Igreja Luterana de São Bento do Sul. Transcrevo abaixo o interessante testemunho:

“Em S. Bento visitamos o P. Quast, naquele tempo ainda solteiro, um homem forte física e espiritualmente, que deixava transparecer o antigo oficial. Ele era uma pessoa muito interessante, de elevados talentos intelectuais, com o qual passamos muitas horas agradáveis, lá e também em Brüderthal. Uma determinada noite tornou-se inesquecível. Nós estávamos sentados em nossa pérgula no jardim pastoral em Brüderthal e P. Quast contava sua história de vida e amor. A história toda era como uma poesia, e realmente ele a entremeava com poesias próprias que tinham pé e cabeça. Nós ficamos sentados juntos até 3 horas da manhã, sem sentir sono. Aliás, ele cometeu o mesmo erro que eu: Para melhoria do lugar e da comunidade, ele instalou olarias e fábricas de escovas, etc, e como eu, teve de conhecer o fracasso”.

1ª Igreja Luterana de São Bento do Sul?

 

É sabido pela historiografia de São Bento do Sul que a primeira Igreja Luterana de São Bento foi criada em 1887. Um diretoria provisória, composta pelos cidadãos Amandus Jürgensen, Otto Krause, Gustav Kopp, Friedrich Rathunde, Carl Mrosk, Hermann Lille, Hermann Linke e Adolph Thomsen se reuniu na primeira assembléia geral extraordinária da Comunidade Evangélica de São Bento, em 12 de junho daquele ano. A descrição esmiuçada do que ficou estabelecido após essa reunião está presente a partir da primeira página do livro de atas.

Assim, parece claro que não existia uma Igreja Protestante na época. E não havia outras fontes que sugerisse ter havido alguma outra, em período anterior. Recentemente, no entanto, Brigitte Brandenburg citou um trecho da Gazeta de Joinville de 20/12/1877, na qual algum autor fala sobre assuntos da vida cotidiana de São Bento. E, em dado momento, fala também das Igrejas:

 

“O centro do nosso distrito progride, com quanto se façam sentir algumas necessidades. Já era tempo para termos uma igreja do gremio católico para veneração do culto divino, temos apenas uma insignificante ermida sem capacidade para a quarta parte dos fiéis que em dias santificados procuram cumprir os preceitos de nossa religião. A igreja protestante é mais espaçosa e em tudo mais regular, não obstante o número dos acatólicos ser menor.”

 

As referências feitas a respeito da Igreja Católica conferem com aquilo que é sabido pelos autores da história de São Bento. A primeira missa católica foi realizada em 08/03/1876. O cronista Josef Zipperer comparar a primeira Igreja ao estábulo onde Jesus nasceu – assim, provavelmente não podia abrigar muitos fiéis.

O que há de novo no trecho citado no jornal é, justamente, a citação de uma Igreja Protestante em São Bento do Sul, já em 1877 – dez anos antes daquela que é entendida como a primeira. Embora ainda não saibamos como tenha surgido essa Igreja, onde se localizava, quem foram seus idealizadores e quais eram as atribuições que cabiam a ela (poderia ser uma pequena casa de oração, sem pastor), a descoberta dessa fonte vem, de certa forma, sugerir novas investigações a respeito, a fim de melhor compreender a história da Comunidade Evangélica da Cidade, e complementar o bom livro de Alexandre Pfeiffer “História da Comunidade Evangélica Luterana de São Bento” (1999).

Os jornais antigos de Joinville estão recheados de informações que auxiliam no entendimento da história de São Bento do Sul e de seus personagens.