João Filgueiras de Camargo foi um dos personagens mais interessantes da história de São Bento do Sul. Sua atuação política como líder republicano foi marcante na região. O cronista Josef Zipperer destaca sua atuação na Revolução Federalista, quando impediu que uma tragédia maior acontecesse em São Bento.
Se fossemos citar um único nome entre os tantos brasileiros que moravam na região no começo da colonização, ele provavelmente seria o mais lembrado. No entanto, só existe até hoje uma mísera ruazinha em sua homenagem. Na verdade, isso não é muito de se espantar, pois durante todos esses anos a ocupação brasileira de São Bento tem sido ignorada ou, no máximo, tratada de forma bastante superficial, o que é realmente lamentável e prejudicial para o conhecimento do nosso passado
Aqui faço um resumo de todas as informações encontradas sobre ele, principalmente no livro de Carlos Ficker “São Bento do Sul – Subsídios Para a Sua História”. Em seguida cito os seus antepassados diretos, conforme descobri em livros de registros paroquiais em São José dos Pinhais e Curitiba. Também descendo do casal nº 3, Bernardina Maria Filgueira e Antônio Calisto de Camargo, de modo que os ancestrais desses também são os meus.
I) JOÃO FILGUEIRAS DE CAMARGO, Prefeito Municipal, Conselheiro Municipal, Juiz de Paz, Líder do Movimento Republicano de São Bento, interventor dos são-bentenses durante os conflitos locais da Revolução Federalista em 1893, comerciante de erva-mate, e um dos fundadores da Sociedade Literária São Bento. Nascido em São José dos Pinhais no dia 12.05.1848, foi batizado no mesmo lugar em 01.06.1848.

João Filgueiras de Camargo foi também sócio do Lese und Kultur Verem “Glueckhauf” (Sociedade Cultural “Boa Fortuna”), clube fundado no primeiro domingo de agosto de 1881, no Km. 80 da Dona Francisca, com objetivos recreativos, culturais e instrutivos em assuntos de agricultura. Os 24 sócios reuniam-se semanalmente no salão do vendista Franz Neumann.
Foi em 03 de setembro de 1881, em uma reunião da sociedade, a qual consta no primeiro livro de atas, que João Filgueiras de Camargo foi aceito como sócio. A sociedade buscava promover o desenvolvimento de todos os setores da agricultura, ajudando os novos imigrantes, aconselhando-os, importando da Europa sementes de trigo, centeio, verduras, etc. Além disso, nas reuniões também eram comentados assuntos dos jornais da época, em especial do “Kolonie Zeitung”, de Joinville, e “Gartenlaube”, da Alemanha, bem como outros jornais especializados.
Para comemorar o aniversário da sociedade, o primeiro domingo de agosto era dedicado sempre à uma reunião festiva, com a presença dos familiares e animados por músicas, danças, e divertimentos variados. Essa sociedade, fundada por Martin Meister, Anton Friedrich e Johann Neumann é tida como a primeira na área colonial de São Bento e durou até julho de 1896, quando, por motivos políticos, as atividades da organização cessaram.
João Filgueiras de Camargo também figura entre os fundadores da Sociedade Literária São Bento, criada em outubro de 1881, e existente até os nossos dias. Em 28.10.1883, João foi eleito Juiz de Paz, tendo recebido 3 votos, a mesma quantidade que Augusto Henning e João Antônio da Rocha, os outros dois juizes eleitos.

João Filgueiras de Camargo foi um dos fundadores da Sociedade Literária, fundada em 1881 e que ainda existe em São Bento do Sul.
Em 30.01.1884, a Câmara Municipal de São Bento foi oficialmente instalada, conforme ofício enviado à Presidência da Província, no qual João Filgueiras de Camargo assina como um dos Conselheiros Municipais, cargo que equivalia à função de vereador. Nos dias 11 e 12 daquele mesmo mês, Filgueiras de Camargo e os demais conselheiros estiveram em Joinville, onde, diante da Câmara Municipal daquele lugar, prestaram juramento de fidelidade.
No ano seguinte, em companhia ao vereador Augusto Henning, João Filgueiras de Camargo abandou o recinto da Câmara Municipal, em sinal de protesto contra a desordem nos arquivos municipais, o que fazia com que vários conselheiros levassem documentos para suas residências.
Em outubro de 1885, o jornal “Constitucional”, veículo conservador e anti-liberal publicado em Joinville, destacava a atuação do “nosso estimado amigo Sr. João Filgueiras de Camargo”, que, fazendo do seu prestígio e grande influência, conseguiu com que a Estrada dos Fragosos, em São Bento, pudesse ter um notável melhoramento. O semanário comentava que foram 100 os trabalhadores que atuaram na melhoria da Estrada de cerca de duas léguas, “que era antes um verdadeiro precipício”, e que o resultado da obra se mostrou excelente. A Estrada dos Fragoso começava no Km. 83 da Estrada Dona Francisca e terminava, justamente, no povoado Fragoso, à margem do Rio Negro, local onde residiam importantes criadores e lavradores.
Em 12.10.1886 aconteceu nova eleição para Juiz de Paz em São Bento do Sul, tendo sido João Filgueiras de Camargo o mais votado, tendo tomado posse a 27.01.1887 no Paço do Edifício Municipal, após ter prestado juramento. Em 1887, com o falecimento de Argemiro Loyola, a viúva Targina Celestina de Oliveira aceitou João Filgueiras de Camargo como sócio de sua firma comercial de erva-mate em Oxford, e que, tomando para si o ativo e passivo da extinta firma, passou a ter o novo nome de “João Filgueiras de Camargo & Cia”, tendo sido uma das mais importantes da região.
No mesmo ano, em 26 de junho, João Filgueiras de Camargo foi um dos signatários do Manifesto Republicano de São Bento, o qual defendia que nenhum dos partidos monárquicos poderiam trazer felicidade e progresso ao Brasil, razão pela qual, daquela data em diante, os signatários declaravam-se filiados ao Partido Republicano Federativo de São Bento, o único que, para eles, poderia levantar o país do abatimento em que se encontrava.
Na qualidade de Presidente da Câmara, que equivalia ao cargo de Prefeito Municipal, tendo sucedido o Dr. Philipp Maria Wolff em 1888, João Filgueiras de Camargo, vendo que não havia policiamento eficaz que executasse as ordens e sentenças das autoridades, no que dizia respeito às desordens que estava ocorrendo no município, foi o primeiro a advertir o Governo Provincial. Houve casos de infratores que não puderam ser chamados à responsabilidade de seus atos porque não havia meios legais para tal, uma vez que a Câmara Municipal de São Bento ainda não tinha as suas Posturas aprovadas pela Presidência da Província. Isso só aconteceu em 18.10.1888, quando as Posturas foram aprovadas pelo Coronel Augusto Fausto de Souza, presidente da Província, e aprovadas pela Assembleia Legislativa Provincial.
Em agosto de 1888, houve nova eleição para vereadores de São Bento. João Filgueiras de Camargo foi uma dos mesários da eleição que ocorreu no dia 12 daquele mês. Os resultados da eleição fizeram com que São Bento tivesse a primeira Câmara totalmente Republicana do Brasil. Levado pelo entusiasmo da vitória do Partido Republicano, João Filgueiras de Camargo lançou um manifesto nos últimos dias de 1888, no qual considerara que a Constituição Política do Império não era suficiente às liberdades e interesses do povo brasileiro, e, assim sendo, deveria ser levado por meio de petição à Assembleia Legislativa a necessidade de uma nova Constituição. A Assembleia, então, deveria dirigir uma petição ao parlamento, para que os novos deputados tivessem poderes para formar uma Assembleia Constituinte, além de fazer uma consulta ao povo sobre a conveniência em continuar com a dinastia após a morte do Imperador.
O Clube Republicano de São Bento, sob a chefia de João Filgueiras de Camargo, conseguia aumentar cada vez mais o número de sócios e, em 18.11.1889, três dias após a Proclamação da República, os membros se reuniram na casa de Carlos Stüber, em Lençol, para discutir o desenrolar de acontecimentos e formular as novas estratégias de ação. O secretário Líbero Guimarães, falando sobre os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro, apelou para que fosse criada uma comissão para mandar a ordem em São Bento. Essa comissão foi formada por João Filgueiras de Camargo, Francisco Antônio Maximiano, Francisco Bueno Franco e Francisco Gery Kamienski.
Com a elevação de São Bento para Comarca, por decreto de 12.08.1891, ocorreu nova eleição em 30.08.1891, dessa vez para Intendentes e Superintendentes, além dos Juízes de Paz. João Filgueiras de Camargo foi eleito novamente um dos Juízes de Paz.
Com a vitória de Marechal Floriano, foi acusado de ser anti-republicano, apesar de pioneiro do republicanismo em São Bento.
Participou da revolução federalista de 1893 ao lado dos maragatos gaúchos. Quando os revolucionários adentraram em São Bento, em 05.11.1893, e se depararam com uma formação de homens armados, dispararam contra eles, o que resultou na morte do cidadão Luiz Köhler.
Filgueiras de Camargo, na condição de Chefe Federalista da cidade, explicou ao comandante que aquele agrupamento objetivava apenas a proteção de São Bento diante de bandoleiros, sem que apoiassem um ou outro lado do conflito. A ação de Filgueiras impediu que aquele dia “não fosse de consequências ainda mais funestas” (ZIPPERER, 1954, p. 65), uma vez que, “sem a pronta intervenção desse cidadão, muitos teriam pago com a vida a sua imprudência” (id, p.69).
Morava no Mato Preto, numa casa com estilo europeu, e tinha boas relações com os imigrantes alemães. Faleceu assassinado às 21h de 25.05.1897, enquanto tranquilamente tomava chimarrão nos fundos de sua casa. Na época se falou em crime político, mas com o tempo, o caso ganhou conotações de crime passional. A esposa de João, durante o inquérito, acusou formalmente seu sobrinho João Elias Fragoso.
Sua esposa era Gertrudes Gomes, filha de Antônio Gomes de Camargo e sua esposa Maria Ferreira, tendo os dois se casado ainda em São José dos Pinhais no dia 20.02.1870, com dispensa no impedimento de consanguinidade no segundo grau da linha lateral, o que mostrava que os contraentes eram primos.
João Filgueiras de Camargo e sua esposa não tiveram descendência.
Pfeiffer (1999) afirma equivocadamente que Filgueiras de Camargo era casado com Maria Soares Fragoso.
II) JOAQUIM CALISTO DE CAMARGO, batizado em Curitiba no dia 26.10.1801, tendo como padrinhos os avós maternos. Casou-se com Maria Gaspar e, viúvo dessa, casou-se novamente, em São José dos Pinhais, no dia 22.08.1835 com Anna Joaquina de Camargo, batizada naquela cidade em 12.10.1813, filha de Lourenço Gomes de Oliveira, já falecido na ocasião do casamento, e Maria Joaquina, exposta na casa de João da Rocha Loures; neta paterna de Ignácio Gomes, de Paranaguá, e Anna Gomes, de Parnaíba. Foram testemunhas o Sargento-Mór Francisco de Paula Xavier, de Curitiba, e o Alferes Manoel Álvares Pereira.
III) BERNARDINA MARIA FILGUEIRA, batizada em São José dos Pinhais no dia 02.07.1782 (1B-63), como filha natural, e casada em Curitiba no dia 15.01.1799 com Antônio Calisto de Camargo, do mesmo lugar, filho de pais incógnitos, por ter sido enjeitado.
IV) JOAQUIM FRANCISCO FILGUEIRA, natural de São Miguel da Terra Firme, atual cidade de Biguaçu, e que foi casado em Curitiba no dia 07.02.1786 (4C-118) com Gertrudes Maria do Prado de Albuquerque, nascida por volta de 1865 e falecida em São José dos Pinhais no dia 24.11.1803, sendo ela filha de Paulo Moreira de Albuquerque e Antônia Rodrigues do Prado, neta paterna de José de Albuquerque e Joanna Leme da Silva, e neta materna de Manoel Pinto dos Reis e Gertrudes Nunes de Jesus.
V) JOÃO FILGUEIRA DA SILVA, natural de São João do Caraí, atual cidade de Niterói, casado em Desterro no dia 01.02.1751 com Josepha Maria da Assunção, natural da Freguesia do Espírito Santo, na Ilha Terceira, filha de Manoel Gomes e Bárbara Lucas.
VI) IGNÁCIO MOREIRA DA SILVA, casada com Izabel Filgueiras, sobre os quais ainda não se tem outras informações.