O Opa do “São Bento no Passado”

Em setembro de 2004, eu era um moleque de 17 anos e havia visto numa revista Seleções algum artigo que falava sobre árvores genealógicas. Por curiosidade, resolvi baixar um dos programas citados e iniciar a minha própria árvore. Na ocasião, eu não conhecia nem os meus bisavós – no máximo, sabia que era descendente de Frederico Fendrich, mas sem me preocupar em descobrir de que maneira ele se encaixava entre meus ancestrais.

Meus pais me passaram o nome dos bisavós, mas não sabiam nada além disso. Como eu continuava mostrando interesse, um dia comentamos sobre o assunto na casa de meu avô – ou, mais exatamente, de meu Opa. Ora, o Opa sempre foi homem de respeitar e preservar a memória de sua família e da cidade, e portanto não teve muita dificuldade em me passar novos nomes para a minha árvore genealógica.

E ainda fez mais do que isso: ele me municiou com vários dos seus livros sobre a história de São Bento do Sul. Foi assim que fiquei conhecendo a linda (e rara) obra “São Bento – Cousas do Nosso Tempo”, do Coronel Osny Vasconcellos, em parceria com Alexandre Pfeiffer, e também o “São Bento na Memória das Gerações”, do mesmo Pfeiffer. Foram obras que me fizeram iniciar na história da cidade, coisa que nunca havia chamado minha atenção até então. Fizeram com que eu me interessasse cada vez mais por ela.

Herbert Fendrich tocou bombardino em várias das bandas da região. Sua participação na Banda Treml, por exemplo, rendeu sete cadernos contando, em forma de diário, as histórias que viveu ao lado de seus companheiros de música.

Naqueles primeiros meses de pesquisa, cada informação era uma novidade. Ainda sem ter muita intimidade com os livros de registros das igrejas e cartórios, boa parte das minhas buscas era por nomes e datas no Cemitério Municipal, que ficava perto da minha casa. Também perguntava por datas ao Opa, que, naturalmente, não tinha como saber de todas elas. Então ele me surpreendia.

Ao visitar os cemitérios da região, o Opa começou a anotar para mim nomes e datas de parentes. Ele sabia que isso seria de interesse para a minha pesquisa. Quando ia visitá-lo, recebia então um pequeno papel, batido à máquina, com informações para a minha pesquisa – sem que eu nunca houvesse lhe pedido tamanho esforço. Fez isso por algumas vezes.

Para o Opa, não era esforço. Era homem que gostava de preservar a história. Foi uma das características que o deixou conhecido na cidade. Diz a história – por ele escrita – que seu pai também era assim: gostava de conversar sobre o passado da cidade, e era procurado pelas pessoas por conta disso. Assim, era com prazer que conversava sobre minhas dúvidas, que me emprestava livros e que anotava dados de cemitérios.

Também era com igual satisfação que contava suas histórias – como eu gostava de ouvir! O Opa distribuiu centenas de suas histórias nos diários que escreveu, mas havia muitas outras que nos contava pessoalmente.  E eram tantas que sua memória se tornou fonte de consulta para historiadores da cidade.

Com o tempo, minhas pesquisas foram se desenvolvendo, e descobri muitas coisas que ele desconhecia. O Opa recebeu uma versão dos meus trabalhos sobre as famílias Zipperer, Roesler e Giese – ainda bem incipientes. E, conforme lia, fazia observações ou então corrigia aqueles dados que sabia. Às vezes ele se surpreendia com os parentes que eu encontrava durante minhas pesquisas. “Ah, então você falou com o filho do Bubi? Olha só, quem diria!”. Enquanto isso, ele me emprestava todos os outros livros de história da cidade que possuía.

O gosto de Herbert Alfredo Fendrich pela história e pelo passado de São Bento do Sul permitiram que esse blogueiro também se apaixonasse pela história da cidade

Mais do que uma explicação genética (que realmente existe), o que valorizo é a dedicação que teve com as minhas pesquisas. Ainda que eu ache não tê-la aproveitado da maneira que poderia, estou certo que, sem ela, eu não teria conseguido progredir tanto. Talvez até viesse a descobrir, com mais dificuldade, o nome de alguns ancestrais. Mas é possível que não houvesse me apaixonado pela história da cidade, coisa que só foi possível através dos livros que me emprestou.

O São Bento no Passado existe porque um dia Herbert Alfredo Fendrich ajudou um moleque a conhecer a sua história.

Herbert Alfredo Fendrich *05.04.1930 +30.07.2007.

Escravos em São Bento e Campo Alegre II

Como eu tive oportunidade de lembrar em um artigo neste blog, o fenômeno da escravidão esteve presente também na região de São Bento e Campo Alegre. Algumas das principais autoridades municipais de São Bento – todos brasileiros – mantinham alguns escravos em suas propriedades em Campo Alegre e proximidades. Através de consultas em livros eclesiásticos e cartorários, é possível descobrir quem eram esses proprietários, assim como o nome e mais alguns detalhes da vida dos escravos que por eles eram mantidos.

O registro a seguir encontra-se no primeiro livro de casamentos do cartório do registro civil de São Bento do Sul. Ambos os noivos são filhos de ex-escravos – pois o casamento aconteceu após a abolição. De forma resumida, o registro diz o seguinte:

Aos 26 dias de fevereiro de 1889, na casa de José Affonso Ayres Cubas, no Jararaca, por ocasião de missa que lá se realizava, casaram-se Benedicto Alves Pires, de 30 anos, natural de São José dos Pinhais, filho natural de Assencia, ex-escrava, com Maria Ferreira de Paula, de 22 anos, filha natural de Paula Ferreira, também ex-escrava da finada Maria Joaquina do Nascimento. Serviram de testemunhas Pedro Alves Machado, de 56 anos, e Joaquim Ferreira de Lima, de mais ou menos 45 anos, ambos moradores no mesmo distrito de São Bento.

Nota-se que fazia pouco mais de quatro meses desde que a princesa Isabel promulgou a Lei Áurea, mas que a antiga condição social continuava sendo usada para qualificar personagens. Como em geral os escravos não eram pessoas legitimamente casadas perante a Igreja Católica, seus filhos eram tidos sempre como “naturais”, impedindo que o nome do pai seja conhecido depois de tantas gerações. É por isso que a maioria dos nomes de escravos que conhecemos na região de São Bento e Campo Alegre são de mulheres.

Entre elas, as antigas escravas Assencia (talvez Ascença) e Paula Ferreira. Sobre a primeira, não há no registro informação direta de quem fosse o seu proprietário. Ao falar de Paula, o escrivão utiliza um “também” que tanto pode se referir à condição de ex-escrava como à propriedade da falecida Maria Joaquina do Nascimento – o que nos parece mais provável.

Se assim for, e os noivos forem filhos de mães que eram propriedades da mesma mulher, o casamento evidencia a continuidade de relações entre essas pessoas mesmo após a abolição.  O nome das testemunhas de casamento serve como pistas para a identificação familiar dos personagens citados nesse registro. A coincidência de sobrenomes entre eles e os noivos leva-nos a cogitar que fizessem parte do mesmo núcleo de relacionamento – isso talvez possa nos levar até o nome de seus pais, desde que novos documentos sejam cruzados.

E quem era essa senhora que possuía escravos? Maria Joaquina do Nascimento foi casada com Joaquim Antônio Alves, filho de Joaquim Alves Fontes e Maria dos Anjos. Os Alves Fontes foram uma família abastada em São José dos Pinhais, e há várias gerações dispunham de serviço escravo. Provavelmente, o esposo faleceu e então Maria Joaquina tomou posse dos escravos que a ele pertenciam. Além de Paula Ferreira e provavelmente de Assencia, sabemos que ela também possuía a escrava Josefa, que batiza um filho em São Bento no ano de 1882. Visivelmente, era uma família abastada.

José Affonso Ayres Cubas, na casa de quem se deu o casamento, também era proprietário de escravos – ao menos de uma, chamada Catharina, que teve um filho alguns meses antes da abolição. E possivelmente tenha tido mais, sem que deixassem rastro nos registros consultados até agora. O casamento aqui relatado é apenas uma pequena parte do fenômeno da escravidão na nossa região, um tema absolutamente esquecido por todos os historiadores locais, e que merece ser analisado e organizado de maneira a preencher lacunas no nosso conhecimento histórico.

Mito I: Os imigrantes de São Bento vieram da Alemanha?

Não.

Isto é, a maioria deles não.

Embora vários imigrantes fossem naturais da Bavária e da Saxônia, que hoje pertencem à Alemanha, o maior contingente dos imigrantes que vieram a São Bento do Sul antes de 1880 tinha como origem o Reino da Boêmia, que, àquela época, integrava o chamado Império Austro-húngaro – criado no ano de 1867 em substituição ao Império Austríaco. Após a 1ª Guerra Mundial, o Império Austro-húngaro foi dissolvido e a Boêmia passou a fazer parte da Tchecoslováquia. Desde 1993, o território boêmio faz parte da República Tcheca.

Em São Bento do Sul, esses imigrantes eram qualificados, qualificavam-se ou deixavam-se qualificar como austríacos. Por muito tempo eles ainda cultivaram um forte sentimento de patriotismo e de pertencimento à Áustria. As noções geográficas foram se perdendo com o passar dos anos e a tentativa de encaixar a cidade num roteiro da Imigração Alemã em Santa Catarina simplificou a origem de nossos imigrantes. A identidade germânica da cidade se faz de maneira étnica e cultural, mas não necessariamente geográfica.

A origem remota desses imigrantes boêmios aponta, de fato, para um passado germânico. Foi a partir do século XII que o rei, a nobreza e os religiosos da Boêmia e da Morávia incentivaram, de forma mais sistemática, a vinda de alemães para ocupar regiões desabitadas do seu território. No século seguinte esse processo se intensificou, com grande número de colonos imigrando de regiões alemãs superpovoadas. Os bávaros ocuparam especialmente o Sul e o Oeste, enquanto que os saxões aproximaram-se do Norte e os silesianos do Leste da Boêmia

Os alemães, a princípio, povoaram regiões de fronteira, tomadas por florestas e de difícil acesso. Habitaram vales e planícies férteis, e apenas a partir do século XVI colonizaram territórios mais elevados. A forte presença alemã alterou de forma significativa a composição étnica da Boêmia, que até então era habitada apenas pelos tchecos. As duas nacionalidades passaram a habitar o mesmo o território, mas não houve uma verdadeira integração étnica. A convivência entre tchecos e alemães, ao longo dos séculos, passou por períodos de harmonia, de rivalidade e até de conflito armado. No século XX, as duas guerras mundiais aumentaram as tensões e culminaram na violenta expulsão dos alemães do território tcheco.

Ou seja, a origem dos boêmios que imigraram para São Bento do Sul é, mais remotamente, alemã – assim se explicam os seus hábitos culturais, mantidos mesmo no Brasil, e que em muito se assemelhavam aos costumes bávaros. No entanto, geograficamente eles eram originários de um território diverso da atual Alemanha. Embora possa parecer mera sutileza, a diferenciação é útil para demarcar a nossa identidade enquanto cidade de imigrantes. São Bento do Sul é a única cidade no estado colonizada principalmente por boêmios. Tal é a especificação da maioria dos nossos imigrantes alemães. Nela devemos insistir.

Campo Alegre no Passado

“São Bento no Passado” também é, por vezes, “Campo Alegre no Passado”. A história das duas cidades foi a mesma até o desmembramento de Campo Alegre, em 1897, apesar da distância que as separava e das diferentes etnias de seus moradores – ao invés de imigrantes, Campo Alegre era habitada por paranaenses de São José dos Pinhais e da Lapa. Vários desses brasileiros estiveram entre as primeiras autoridades nomeadas para São Bento do Sul – os imigrantes, em geral, se demonstravam desinteressados pela política. E as duas cidades se relacionavam de diferentes formas, inclusive comerciais e culturais. Parece certo que para uma compreensão mais ampla da história local é preciso levar em conta as interações entre os grupos que habitavam São Bento do Sul e Campo Alegre.

A historiografia são-bentense, no entanto, não costuma entender os paranaenses de Campo Alegre como uma parte importante de sua história. As raras exceções em que são mencionados se resumem, naturalmente, às suas atuações políticas e ao conflitos de terra – geralmente, se posicionando a favor da causa imigrante, a ponto dos brasileiros serem vistos como simples intrusos (quando não arruaceiros). A historiografia de Campo Alegre (mais reduzida, e admito não conhecê-la tão bem), embora considere a interação com São Bento do Sul, parece não ter ainda esmiuçado de verdade o seu próprio passado. Falta, parece, uma obra com a densidade e a fidelidade documental que Ficker buscou no seu livro sobre São Bento. Hoje, praticamente todos os brasileiros pioneiros na ocupação da cidade, e os feitos a ele atribuídos, já estão totalmente esquecidos. E o desconhecimento da história faz com que ela seja preenchidade maneira equivocada. Assim é que sites de turismos dão conta de que Campo Alegre foi colonizada por espanhóis, portugueses, alemães e poloneses. Seus pioneiros, realmente, até tinham ascendência portuguesa e espanhola, mas já estavam no Brasil há  dois  ou mais séculos. Se houve colonização (palavra que parece exigir uma qualificação européia) ela foi, principalmente, brasileira.

Assim, creio que as novas descobertas sobre o passado da cidade e de seus personagens devem ser comemoradas e divulgadas. E há tanta coisa para ser descoberta! Isso inclui São Bento do Sul, já que muitos aspectos de sua história ainda não foram devidamente explorados, e podem aumentar consideravalmente a compreensão que se tem do nosso passado (atualmente bastante maltratado por um historiador de status). A cidade de Joinville ainda esconde, em jornais e documentos, aspectos interessantíssimos dessa história, e que ainda permanecem inéditos. São fontes preciosas até pela própria antiguidade das informações. Representam o início da história das duas cidades.

As cidades do norte catarinense contam com um número de pesquisadores que, embora sejam poucos, estão realmente dispostos a colaborar uns com os outros, e dessa maneira a tendência é o crescimento da historiografia regional e o seu aperfeiçoamento, cada vez mais embasado em fontes documentais – sempre levando em conta a oralidade, mas esclarecendo quando se trata dela. Isso tem permitido o aumento do número de informações sobre o passado de Campo Alegre. Aos poucos, em novos posts, tentarei falar um pouco mais sobre os primeiros campoalegrenses – na época em que ser campoalegrense era o mesmo que ser sãobentense.

PS: São-bentense se escreve com ou sem hífen?

Festa Resgata Memória da Sociedade Austro-húngara

Em setembro, deve acontecer em São Bento do Sul a 1ª Böhmenfest. A festa busca resgatar o espírito boêmio que inspirava a Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, uma agremiação criada entre 1895-1898 para o auxílio mútuo entre os imigrantes boêmios da cidade. A Sociedade, que foi presidida pelo meu trisavô Friedrich Fendrich, também costumava realizar grandes bailes e comemorações – em especial, por ocasião do aniversário de Franz Joseph, o imperador austríaco da época. E a intenção da Böhmenfest é justamente resgatar a memória dessas festividades, permitindo que as tradições trazidas pelos imigrantes possam ser preservadas e transmitidas às novas gerações. A iniciativa é louvável não apenas por garantir a tradicional festa de setembro na cidade, mas por resgatar a memória de uma Sociedade ainda não muito conhecida na história de São Bento do Sul, o que, a partir de então, pode estimular que novas descobertas sobre ela sejam feitas. Além disso, a festa representa uma afirmação das origens boêmias da maior parte dos imigrantes – e não mais uma genérica “Alemanha”. Com o tempo, a festa pode contribuir também para o aumento do conhecimento histórico e geográfico do passado de São Bento do Sul. Deseja-se sucesso para a festa!

Famílias de São Bento estão confirmadas

O livro “Famílias Catarinenses de Origem Germânica”, projeto organizado por Toni Jochem em comemoração aos 180 da Imigração Alemã em Santa Catarina, contará com a presença significativa de sobrenomes da região de São Bento do Sul. Das mais de 100 famílias já inscritas, a cidade estará representada pelos seguintes sobrenomes e pesquisadores:

 

Angewitz – Henrique Luiz Fendrich e Márcio Ricardo Staffen

Beyerl – Henrique Luiz Fendrich

Bollmann – Antônio Dias Mafra

Diener – Douglas Moeller Diener

Fendrich – Henrique Luiz Fendrich

Froehner – Juliano Froehner

Hackbarth – Zilda Hatschbach

Hatschbach – Zilda Hatschbach

Hümmelgen – Cristian Luis Hruschka

Kobs – Sueli Aparecida Tuleski

Prüss – Flávio Pruess

Roesler – Henrique Luiz Fendrich

Schindler – Flávio Pruess

Schuhmacher – Márcio Ricardo Staffen

Staffen – Márcio Ricardo Staffen

Zipperer – Henrique Luiz Fendrich

 

É um bom número de participantes, que certamente saberá representar da melhor maneira as suas famílias e a própria história de São Bento do Sul. Lamenta-se, no entanto, que alguns sobrenomes tradicionais na cidade, como Pscheidt, Grossl e outros, não possuam pesquisadores entre os seus descendentes e, por conta disso, não poderão fazer parte dessa valiosa publicação, que se deverá se tornar fonte de pesquisa para as gerações posteriores. A nossa intenção era fazer com que o maior número possível de famílias são-bentenses fossem representadas no livro.

Coral se Despede de Figuras Ilustres de SBS

Meu avô Herbert Alfredo Fendrich foi regente da Sociedade de Cantores 25 de Julho, em São Bento do Sul, entre os anos 1983-2000. Uma das tradições que, ao longo desse tempo, a Sociedade buscava manter, era a de acompanhar com cantos o sepultamento de membros e de pessoas relacionadas ao Coral.  Já em 1897 existia registro de ato semelhante por parte dos coralistas, quando faleceu Henrique Hettwer. Era uma maneira de homenagear e mostrar o reconhecimento por essas pessoas, tornando a cerimônia mais bela e emocionante, levando muitos às lágrimas. Normalmente, cantava-se no velório e também ao pé da sepultura. Essa tradição se manteve enquanto Herbert Alfredo Fendrich foi o regente do Coral. E, nesse período, a Sociedade de Cantores 25 de Julho, com seus belos cantos, acompanhou até à última morada as seguintes pessoas, conforme as bem-cuidadas anotações de meu avô:

 

11.09.1984 José Kellner

10.02.1985 Nelson Weiss

17.02.1986 Elisabeth Grosskopf

23.03.1986 Eraldo Sprotte

03.05.1986 Sophia Schwedler

10.05.1986 Maria Lietz

28.09.1987 Lino Sprotte

01.06.1988 Wilhelm Ziemann

12.08.1988 Edgar Panneitz

10.04.1989 Bráulio Rudnick

21.08.1989 Antônia Rudnick

22.11.1989 Erhardt Mareth

04.12.1989 Orlando Ziebarth

07.12.1989 Heinz Selke

08.04.1990 Ornith Bollmann

03.06.1990 Gustavo Sprotte

30.06.1990 Maria Struck

23.12.1990 Julio Panneitz

19.02.1991 Edy Ellingen

19.04.1991 Bruno Linke

17.05.1991 Alfredo Reinaldo Scholze

19.06.1991 Ervino Schwedler

16.07.1991 Hugo Weiss

10.09.1991 Maria Schwarz

27.11.1992 Alfredo Priebe

27.05.1993 Erna Schwedler

02.07.1993 Wilfredo Weihermann

01.11.1993 Sophia Scholze

12.03.1994 Leonardo Scholze

16.05.1994 Jonnas Rudnick

03.07.1994 Germano Struck

11.12.1994 Lino Schwarz

28.04.1995 Erhardo Rudnick

11.10.1995 Rudolf Schlagenhaufer

13.11.1995 Vigando Radinz

15.12.1995 Albino Tschoecke

14.04.1996 Gustavo Rudnick

06.07.1996 Alfredo Schulz

21.04.1997 Berta Sprotte

30.04.1997 Waldemar Scholze

16.06.1997 Venanda Lilly Kellner

01.11.1997 Paulo Pauli

20.11.1997 Valfrido Scholze

26.11.1997 Ricardo Neubauer

30.01.1998 Elfrida Cristina Sprotte

22.09.1998 André Brodel

05.11.1998 Olga Hannemann

22.01.1999 Siegfried Schürle

22.05.1999 Clara Kohlbeck

26.09.1999 Elly Tschoecke

19(?).12.1999 Amália Panneitz

Dr. Wolff

Sou tomado por uma repentina admiração pelo Dr. Felipe Maria Wolff. Não ignoro que o homem que hoje empresta seu nome ao Museu Municipal de São Bento do Sul podia ser muito desagradável e descarregar toda a sua ira contra os vários inimigos que teve ao longo da vida. Mas no dia de hoje, ele me inspira apenas simpatia.   

Isso se explica: terminei de ler o diário que o Dr. Wolff escreveu sobre o período em que esteve, como médico, auxiliando as forças legalistas na Lapa, durante a Revolução Federalista.

E pude encontrar o Dr. Wolff em momentos difíceis: dormindo em sacos de erva mate; impossibilitado de tirar as suas botas por dias seguidos; sentindo-se deslocado em meio aos rudes homens que faziam a guerra; sobrecarregado com o atendimento de feridos; caminhando sob o fogo dos federalistas enquanto se deslocava para atender seus pacientes; vendo granadas voarem sobre sua cabeça e explodirem a poucos metros; comendo mal e pouco; sentindo dores agudas nos rins e na bexiga e não conseguindo dormir; e sentindo muita saudade da sua filha Toni, e temendo que algo de mal lhe acontecesse.

Em outras palavras, encontrei o Dr. Wolff transformado em ser humano – o que inclui os seus defeitos. Francisco Brito de Lacerda disse que as opiniões de Wolff em seu diário revelavam o seu egocentrismo – e que cada um julgasse isso como bem entendesse. Creio que a leitura de um documento tão íntimo como um diário tornou mais tolerável tais defeitos – que não ignoro.

Mas ora bolas, eu tenho que parar com essa mania de me simpatizar por todo mundo

Ayurveda

Eu estava com um bloco de notas na mão e perguntei o seu nome.

– Astrid Pfeiffer.

– Ah, você é de São Bento então?

O sobrenome não deixava dúvidas: ela era.

Um pequeno momento a ser registrado: em Curitiba, na manhã de um sábado, dois são-bentenses, ele universitário e ela nutricionista, se encontraram numa clínica em que o primeiro fazia uma reportagem sobre o Ayurveda – especialidade da segunda.

Em nome de tão estimada coincidência, rendamo-nos à Terapia Ayurvédica.

Seca

Em 1963, Arno Fendrich se queixava: o teatro estava sendo desbancado pelo cinema, e o cinema pela televisão. E o governo brasileiro tinha coisas mais importantes para pensar do que o teatro. Situação muito diferente daquela que acontecia em Roma, Nova York, Paris e Londres. Nesses lugares, o teatro ainda rendia – e rendia muito. Mas no Brasil, além de não auxiliar, o Governo ainda tirava aquilo que o teatro havia conquistado – negava-se apoio a um movimento de educação e cultura.

Uma comparação simples e real: nos grandes centros europeus, o teatro era uma grande magazine, caminhando a passos de gigante. No nosso país, o teatro era uma lojinha. E o povo ou governo que não apóia o teatro está morto – no mínimo moribundo. Arno segue essa linha até falar das dificuldades com o seu grupo de teatro em São Bento. Em todas as apresentações, houve muita gente, muito movimento, muito movimento – e seria maior se houvesse dinheiro, muito dinheiro, algum dinheiro, pouco dinheiro.

Ora, estamos falando da melhor época para o teatro na história da cidade. Não sei em que pé está a situação hoje. Sei apenas que, em 1963, Arno terminava de forma contundente: “Terra sem teatro, é sertão sem chuva”.

Teria a seca chegado a São Bento do Sul?

Pequenos Apontamentos sobre o Futebol em SBS

O jornal Tribuna da Serra de 23.09.1966 apresenta uma entrevista feita por Sabino Salomon com Álvaro Guerreiro Krüger sobre a sua participação história do futebol em São Bento do Sul. Krüger foi, de fato, um dos primeiros praticantes desse esporte na cidade. Na entrevista, que levou o título de “”Futebol ainda não completou meio século em São Bento”, Krüger afirma que o esporte teve início na cidade “lá pelos idos de 1920”. O primeiro time se chamava “São Bento”. Não sabemos quem foram os primeiros jogadores. Os jogos eram realizados no “potreiro do Klaumann”, localizado onde hoje ficam as dependências da Sociedade Ginástica, no centro da cidade. Em meio a entrevista, Krüger disse que já estava esquecendo de mencionar um certo Waldemar, que naquela época trabalhava no D.E.R e que havia sido “o pioneiro do futebol em São Bento”.

Depois do São Bento, surgiram outros dois clube de futebol, com os curiosos nomes de “Almofadinha” e “Melindroso”. As duas equipes logo se tornaram rivais, e foram muitos os “clássicos” disputados entre as duas equipes. O time do Bandeirantes, que se tornaria o mais tradicional de São Bento nos anos seguintes, só surgiu em 24.06.1930, tendo Krüger sido um dos fundadores e primeiro diretor esportivo – além de jogador, chamado carinhosamente de “Meladinho”.

Ao ser perguntando sobre os grandes jogadores da história do Bandeirantes, Álvaro Guerreiro Krüger cita vários, e provavelmente de épocas diversas. É provável que, entre esses nomes, estejam alguns daqueles que, junto com Krüger, primeiro praticaram futebol em São Bento. Boa parte da lista de jogadores deve compreender atletas das décadas de 20 e 30. A seleção de Krüger contava com os seguintes jogadores: Jacosinho, Fonsi, Moreti, Renato, Prospinho, Periquito, Vino Treml, Fernando, Elizio, Enedy, Pires, Pinto, Bequinha, Toni, Putzi Beckert[1], Saporiti, Marçal, Schroth e Siqueira. Krüger menciona ainda um técnico negro chamado Bagé. Todos esses representam a primeira geração do futebol em São Bento, pois em seguida cita os mais “recentes”, que foram: Cigano, Zoni, Erico, Grilo, Cabo, Werner, Wolney, Mengarda, Aldo, Zito, Edi, Carlito, Trajano, Gildo, Osmar, Lauro, Chiquinho e Marreco.

A entrevista de Salomon contém, ainda, algums momentos curiosos, como quando o entrevistador perguntou se Krüger lhe guardava algum rancor – pois ele era o cronista de futebol do jornal e, invarialvelmente, devia falar coisas que não soavam agradáveis a todo mundo. Krüger disse que rancor não sentia, mas ressentimento sim. Isso porque, segundo ele, havia publicações que não correspondiam com a verdade.

Em outra pergunta, Salomon quis saber qual a comparação que Krüger fazia entre o futebol daquela época (1966) e aquele que teve início na década de 20 em São Bento do Sul. Krüger deu uma resposta saudosista, dizendo que, antigamente, se jogava com mais entusiasmo e garra. Além disso, o futebol daquela época, para ele, estava sendo muito matemático, “carregado de táticas e esquemas”.

Considerando o atual estágio do futebol mundial, é possível que, em 2009, Krüger abominasse o futebol mais do que tudo.


[1] Putzi Beckert certamente foi jogador na década de 30. Sabemos disso porque temos a informação de que faleceu em 1935. Foi ele o primeiro esquife levado ao Cemitério Municipal pela carroça construída pelo meu bisavô Frederico Fendrich, o filho.

Grandes Vultos de São Bento do Sul VI

SANTOS, Ernesto Venera dos. (Brusque, 11/05/1901 – São Bento do Sul, 05/04/1964). Prefeito Municipal de São Bento do Sul (1936-1937), vereador, chefe municipal da Ação Integralista Brasileira, professor, autor de peças teatrais, jornalista e livreiro. Foi também o 14º Presidente da Sociedade de Cantores 25 de Julho, entre 06/10/1929 e 25/10/1931. Escreveu peças teatrais como “O Carvoeiro Aleijado”, “Quanto é Bom Viver no Mato” e “O Ministro da Justiça”, que eram apresentadas por atores que faziam parte da Sociedade. Consta que foi autor de diversos livros, muitos dos quais perdidos. Foi também diretor-gerente do semanário “O Aço”, publicado pela primeira vez em 01/09/1936, além de ter sido diretor substituto do também semanário “Planalto”, pertencente ao Capitão Osmar Romão da Silva (ver), entre 10/02/1945 e 03/11/1946. Sucedendo o prefeito Eduardo Virmond (ver), Ernesto Venera dos Santos foi eleito de forma direta o Prefeito de São Bento do Sul em 1936, permanecendo no comando da cidade até 10/11/1937, quando o golpe de estado de Getúlio Vargas fez com que também ele acabasse deposto, cedendo o cargo a um novo mandato do Capitão Ernesto João Nunes (ver). Em meio às comemorações pelos 75 anos da Sociedade de Cantores 25 de Julho, cujos festejos aconteceram em 14/10/1956, Ernesto Venera dos Santos foi um dos que discursaram, relembrando o tempo em que foi presidente e também professor na escola do Km. 80. Entre 1956-1961, foi vereador, tendo sido eleito Presidente da Câmara, durante a gestão de Carlos Zipperer Sobrinho (ver). Casou-se com Anna Monich, filha de Richard Monich (ver) e Karoline Amália Anna Klaumann. O casal teve os filhos Flávio e Diva dos Santos. Recebeu em sua homenagem o nome de uma agremiação pré-escolar no Bairro Progresso, além de uma rua no Bairro 25 de Julho. Sepultado no Cemitério Municipal de São Bento do Sul.

Frederico Fendrich, o filho

Frederico Fendrich, o filho, nasceu em São Bento do Sul no dia 18.09.1881, filho de Friedrich Fendrich e Catharina Zipperer. Foi batizado no dia seguinte, tendo como padrinhos seus tios Josef Zipperer e Anna Maria Pscheidt. Com seu pai, aprendeu o ofício de sapateiro, e quando o velho Friedrich faleceu, em 1906, foi ele que tomou conta da sapataria, conduzindo-a até falecer.

Foi casado em São Bento do Sul no dia 23.09.1908 com Anna Roesler, filha de Johann Rössler e Amalia Preussler, com a qual teve 14 filhos, sendo alguns natimortos ou que faleceram pequenos. Para superar as dificuldades, além da sapataria, Frederico adquiriu uma pequena lavoura no interior, criando também gado e suínos. Por várias vezes, carregava de calçados uma carroça e saia pelas casas de negócio do interior para trocar por roupas e alimentos.

Foi membro da Sociedade de Atiradores de São Bento do Sul, e desde 1899 fez parte da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, a qual fora presidida por seu pai. Em 1915, suplente de vereador, tendo posteriormente assumido e exercido o cargo de 2º secretário entre os vereadores. Na década de 20, também teria sido suplente e sub-delegado de policia.

Também foi o idealizador da primeira carroça exclusivamente fúnebre de São Bento do Sul, tendo sido, por anos, o próprio condutor dos enterros. Por quase toda a sua vida, também conduzia casamentos com um trole de sua propriedade. Na 2ª Guerra Mundial, vendo o problema da falta de gasolina, colocou seu trole à disposição, na Praça, como táxi.  Com outras carroças, fazia fretes, levando tijolos, areia e outros matérias para construção.

Todos esses afazeres não impediam que se dedicasse à Sapataria Fendrich, que chegou a contar com 10 funcionários. Como a sapataria crescia, Frederico Fendrich anexou a ela uma loja de calçados, que teria sido a primeira em São Bento do Sul – e por muito tempo foi a única.

Nas horas de folga, gostava de jogos de cartas. Fã de música, tomou parte no coral da Igreja Católica, no qual esteve por mais de 40 anos, e no Coral da Sociedade Beneficente Operária, sendo o 1º baixo. Dessa Sociedade, também participou da diretoria. Frederico também foi homem de ótima memória, deixando valiosas informações históricas a todos que lhe perguntavam sobre acontecimentos do passado de São Bento do Sul – característica que foi herdada pelo seu filho Herbert Alfredo Fendrich, falecido há pouco tempo.

Depois de poucos dias enfermo, veio a falecer no dia 25.05.1947. Consta que seu sepultamento foi um dos maiores da época, tendo as duas igrejas locais tocado os seus sinos em sinal de reconhecimento e homenagem ao falecido. O cortejo fúnebre seguiu para o Cemitério Municipal e foi acompanhado pelas melodias da Banda Treml. Frederico está sepultado no mesmo túmulo de seu pai, onde também seria sepultada, 21 anos depois, a sua esposa Anna Roesler. No ano de 1960, Frederico Fendrich foi homenageado com o nome de uma das ruas da cidade, localizada ao lado da atual Sociedade Literária.

Em meio aos arquivos de meu avô, encontrei uma pequena poesia – possivelmente feita por ele – em homenagem a Frederico Fendrich, e que foi lida por Mário Melo, da Rádio Timbira, no dia 23.06.1947. Ei-la:

 

Morrestes, e deixastes a terra que amava

O berço de teus filhos a balouçar sereno

Mas seguistes para terra verdadeiramente tua

O túmulo dos que seguem a “Cristo Nazareno”

 

Deixastes a teus filhos lágrimas perpétuas

Herança do amor de um pai bondoso

À tua esposa, um soluçar amargo

Pela saudade de um querido esposo

 

Morrestes sim! Mas lá nas alturas

Onde há mais vida, doçura e amor

Está tua alma para a “Vida Eterna”

Junto aos anjos de “NOSSO SENHOR”

Jogos do Bandeirantes no ano de 1963

Com base no jornal Tribuna da Serra, chamado anteriormente de Tribuna da Fronteira, foi possível levantar os resultados abaixo de jogos da Sociedade Desportiva Bandeirantes, time de futebol de São Bento do Sul, no ano de 1963. Esses jogos não representam a totalidade de confrontos, mas apenas aqueles que puderam ser noticiados.

 

17.02.1963 BANDEIRANTES 5×1 Grêmio Esportivo 25 de Agosto – Joinville

10.03.1963 BANDEIRANTES 8×3 Esporte Clube Itaiópolis

07.04.1963 BANDEIRANTES 2×3 Santa Cruz Esporte Clube – Canoinhas

28.04.1963 BANDEIRANTES 3×4 Clube Atlético Operário – Mafra

01.05.1963 BANDEIRANTES 0x1 Peri Ferroviário Esporte Clube – Mafra

28.07.1963 BANDEIRANTES 3×1 Icaraí – Curitiba

04.08.1963 BANDEIRANTES 2×2 Botafogo – Canoinhas

25.08.1963 BANDEIRANTES 4×1 Água Verde – Joinville

01.09.1963 BANDEIRANTES 1×3 Esporte Clube Continental – Rio Negrinho

20.10.1963 BANDEIRANTES 0x4 Ipiranga Futebol Clube

03.11.1963 BANDEIRANTES 2×1 Grêmio Esportivo Rionegrense – Rio Negro

17.11.1963 BANDEIRANTES 3×2 Clube Atlético Operário – Mafra

24.11.1963 BANDEIRANTES 3×3 Sociedade Esportiva Ipiranga – Rio Negrinho

01.12.1963 BANDEIRANTES 1×5 Sociedade Esportiva Ipiranga – Rio Negrinho

Famílias Pomeranas de São Bento do Sul

A maior parte das famílias de origem germânica que vieram à São Bento do Sul tinham sua origem na Boêmia, que atualmente faz parte da República Tcheca. Mais remotamente, suas origens apontam para a Bavária (no caso dos imigrantes do Böhmerwald) e a Saxônia (no caso dos imigrantes da Boêmia do Norte).

Mas além dos boêmios, São Bento do Sul também recebeu várias famílias da Pomerânia, hoje pertencente à Polônia. De cultura diversa, a começar pela religião protestante, eles, naqueles primóridos, não eram muito amigos dos boêmios.

Conforme a procedência indicada nas listas de passageiros e em registros eclesiásticos, foram identificadas ao menos as seguintes famílias pomeranas que se estabeleceram em São Bento do Sul no começo de sua colonização:

 

Albrecht, Becker, Bendlin, Benke, Boeck, Braatz, Brandt, Bruch, Drawans, Engel, Engler, Fantow, Felow, Fertig, Franz, Hackbarth, Gatz, Giese, Goll, Gresenze, Grimm, Günther, Hart, Heyse, Hümmelgen, Kämpfert, Kleinschmidt, Kleist, Knop, Löck, Mallon, Mielke, Münchow, Neumann, Ortmeyer, Panneitz, Pöppel, Priebe, Rabke, Redel, Redemski, Reichwaldt, Roeder, Röpke, Rudnick, Ruske, Schneider, Schröder, Schulz, Selke, Sill, Utrech, Weber, Wegner, Wenzel, Woite, Wollin, Worell

Novotel e o Teleférico em São Bento do Sul

Fonte:  JELLER, Fernando. “O Sonho do Teleférico Deverá se Realizar”. IN: Revista Carisa nº 1; Semmer Artes Gráficas, Mafra, Junho de 1989, p. 31.

1ª Edição da Revista Carisa (Junho de 89)

1ª Edição da Revista Carisa (Junho de 1989)

A antiga revista são-bentense “Carisa”, na sua edição de estréia, em junho de 1989, contém uma reportagem com Alfredo Frederico Klimmek, então presidente do Conselho encarregado da construção de um Hotel 4 Estrelas em São Bento do Sul.

O hotel planejado pelo Conselho, que incluía ainda empresários como Ismar Becker, José Henrique Carneiro Loyola, Arnaldo Huebl e Odenir Weiss, viria a se tornar o atual Novotel, construído ao lado do Parque 23 de Setembro.

O objetivo era suprir a falta de hotéis de classe na região. A região escolhida é apontada como “a área mais nobre do município”. Os custos estavam estimados em 3,5 milhões de dólares.  

Alfredo Klimmek acreditou no sucesso do hotel e no sonho do teleférico.

Alfredo Klimmek acreditou no sucesso do hotel e no sonho do teleférico.

A matéria da revista revela detalhes da história daquele empreendimento, cujo terreno de 24.200 m² foi comprado em dezembro de 1985 por 700 milhões de cruzeiros. Klimmek sonhava alto com o hotel, afirmando que seria o novo Cartão Postal da cidade, uma vez que seria construído “dentro do mais típico estilo germânico”.

Naquela época, a planta do hotel já havia sido feita pela empresa “Novo Hotel”, a qual já havia construído mais de 600 hotéis em todo o mundo. Seriam sete mil metros quadrados de área construída. Tudo que estava pronto até então se resumia ao estacionamento para carros e ônibus e uma quadra de tênis – ainda sem os alambrados. O projeto estava se encaminhando para a fase de escoamento pluvial, sendo que, para Klimmek, “os entraves burocráticos já foram ultrapassados”.

Iniciativa de empresários de São Bento do Sul resultou na criação do Novotel, o primeiro hotel 4 Estrelas da cidade - mas nada de teleféricos

Iniciativa de empresários de São Bento do Sul resultou na criação do Novotel, o primeiro hotel 4 Estrelas da cidade - mas nada de teleféricos

Mas a parte mais interessante da matéria refere-se à construção de um teleférico ligando o futuro hotel ao Museu Municipal. Pela maté-ria, se percebe que a idéia já havia come-çado a esfriar, diante de dificuldades diver-sas, provavelmente financeiras. Mas Klimmek, otimista, afirmava que esse sonho, que vinha desde o começo do projeto do hotel, não estava descartado. O teleférico teria o objetivo de dar maior liberdade aos hóspedes. Klimmek afirmou que, para isso, bastaria que houvesse o repasse adequado de recursos para que ele fosse construído. O empresário conclui ainda que o teleférico irá se tornar famoso em todo o sul do País.

20 anos depois, sabemos que nada disso aconteceu. O Novotel, de fato, está construído, e representa o Hotel 4 Estrelas que se planejava construir. Mas, naturalmente, nunca houve nem sombra de teleférico. Não bastasse a dificuldade para a execução de tamanha obra, não há certezas sobre o retorno e o impacto que teria para hóspedes ou turistas. Analisando hoje, a idéia espanta, e não nos é possível acreditar que pudesse dar certo. 

Era nesse morro que um teleférico seria construído. Partiria do lado direito, onde está licalizado o Novotel, e desceria em direção ao lado esquerdo, onde se encontra o Museu - que não chega a aparecer na foto.

Morro do Novotel: do hotel, que fica mais à direita, partiria um teleférico na direção do Museu Municipal, que fica à esquerda, mas não chega a aparecer na foto.

 

Um dos Primeiros Italianos de São Bento

De vez em quando vejo alguma referência (não dos historiadores) dizendo que São Bento do Sul foi uma cidade colonizada por alemães, poloneses e italianos. Além de desconsiderar a imensa quantidade de brasileiros, essa afirmação é equivocada no que diz respeito aos italianos. De fato, não havia imigrantes desse país entre os pioneiros da cidade. A presença mais constante dessa etnia só aconteceria anos mais tarde, não sendo possível, de jeito nenhum, afirmar que eles estiveram entre os colonizadores.

Prova inequívoca disso são os registros eclesiásticos da Igreja Matriz de São Bento do Sul, nos quais praticamente inexistem registros de italianos antes de 1900 (embora exista o falecimento de certo Nicolau Salvuecio, italiano morador de Campo Alegre, em 1887). Pensamos que também isso deva acontecer nos arquivos do Cartório Civil da cidade.

Apesar disso, existe uma referência a um italiano que morava em São Bento do Sul, ou nas proximidades, no ano de 1898. O Jornal “Legalidade”, do Dr. Philipp Maria Wolff, contava com um anúncio, no dia 14.05.1898, no qual Antônio Lisboa dos Santos, brasileiro, acusava o desaparecimento de “um Poncho novo de panno bom, forrado de baeta, encarnado em uma capa de mescar azul; dentro da capa continha uma corca azul de panno grosso”. Dizia Antônio Lisboa dos Santos que o sumiço do poncho teria ocorrido entre a casa do italiano João Gabarte e os Lençóis, onde morava.

Até o momento, se desconhece outras referências sobre esse italiano de nome João Gabarte, não sabendo-se quem era, o que fazia, onde exatamente morava e quando passou a habitar a região. A sua presença, certamente um dos primeiros, assim como a de Nicolau Salvuecio, mostra que, efetivamente, italianos moravam em São Bento e região antes de 1900, mas não se pode atribuir a isso uma imigração coletiva, e sim à alguma migração individual ou de grupos pequenos.

Sabemos também que no Cemitério Municipal de São Bento do Sul está sepultado um certo João Gabardo Lemos, nascido em 1913 e falecido em 1997. A se confirmar a relação entre esse João Gabardo e o João Gabarte mencionado pela Legalidade, observa-se que houve a fixação dessa família italiana na região.

A temática dos italianos é só mais um dos vários temas históricos de São Bento do Sul que renderiam bons trabalhos. Esperamos que algum historiador ou mesmo um descendente chegue a investigar e esmiuçar o assunto, de modo a conhecermos melhor aspectos inéditos da nossa história.

A Escolha do Nome “São Bento”

O Coronel Osny Vasconcellos, autor de valiosas contribuições para o melhor conhecimento da história de São Bento do Sul, também escreveu sobre a escolha do nome de “São Bento” à região. O próprio Vasconcellos chama a história de “versão”, de modo que, até chegarmos a resultados conclusivos, pesquisas mais exaustivas precisam ser feitas. Por ora, atemo-nos ao que foi publicado no jornal Tribuna da Serra de 23.09.1966, quando São Bento do Sul completava 93 anos.

 

E o nome São Bento? 

O Misterioso Adam Zipperer

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A família de Anton Zipperer e Elisabeth Mischeck esteve entre as pioneiras de São Bento do Sul. O pai de Anton é apontado como Adam Zipperer por historiadores familiares. Registros de Igreja, no entanto, dizem que, na verdade, era Jakob Zipperer.

A família Zipperer está entre as pioneiras da cidade de São Bento do Sul. Os imigrantes Anton Zipperer e Georg Zipperer foram dois dos 70 homens que subiram a serra Dona Francisca para dar início à derrubada da mata, à demarcação de lotes, e à conseqüente fundação da Colônia de São Bento, em setembro de 1873.

Aos vários mistérios que envolvem a história dessa família, já tratados aqui, soma-se agora o nome do pai de Anton Zipperer. Sabe-se pelo livro “Bayern in Brasilien”, escritor pelo bávaro Josef Blau com base em informações passadas a ele por Jorge Zipperer e Martim Zipperer que o pai de Anton se chamava Adam Zipperer. Não havia qualquer motivo para duvidar disso, uma vez que quem informava eram dois netos de Anton Zipperer, e profundos conhecedores e admiradores da história familiar e da região de onde seus ancestrais imigraram.

No entanto, penso ter encontrado informações suficientes que me permitem, ao menos, questionar a informação de Jorge e Martim. Há algum tempo, um pesquisador tcheco havia me passado a informação de que, nos arquivos de Pilsen, na República Tcheca, está o registro de casamento de Anton Zipperer e Elisabeth Mischeck, e que o pai do noivo aparece como Jakob Zipperer. Esse nome é justamente aquele que Jorge e Martim Zipperer apontam como avô de Anton, e não pai.

Apesar disso, eu ainda cogitava a possibilidade de seu pai ser Adam Zipperer. Isso porque é tradição que Anton Zipperer cedo ficou órfão de pai, tendo inclusive recebido a alcunha de “Filho da Viúva”, já que sua mãe nunca mais se casou. Assim, admiti que era possível que fosse filho de Adam e que, por algum motivo, não era isso que aparecia no seu registro de casamento, feito muito tempo depois do falecimento de seu pai. Seria o caso de um avô aparecendo como pai – novamente, ressalto a grande credibilidade que Jorge e Martim possuem em termos de história familiar.

Mas abandonei de vez a idéia que Anton Zipperer era filho de Adam Zipperer. Essa semana, 3 dias antes de se lembrar os 117 anos de falecimento de Anton Zipperer (em 20 de dezembro de 1891), recebi as informações que constam no batismo de Anton, em 1813. E lá, categoricamente, seus pais aparecem como Jakob Zipperer e Theresia Bohman. Ora, isso parece resolver o problema. A mim não resta dúvidas que Jakob era o pai de Anton, e não Adam. Mas vem aí uma nova questão: então, quem foi Adam Zipperer?

Jorge e Martim Zipperer citam ainda que esse misterioso Adam Zipperer faleceu em 1820, precocemente. E como Anton era, na verdade, filho de Jakob, até mesmo a história de “Filho da Viúva” precisa ser melhor explicada (será que Jakob Zipperer faleceu cedo?).

Em relação ao outro imigrante Zipperer que veio a São Bento do Sul, chamado Georg Zipperer, levanto a hipótese dele não ter sido irmão de Anton Zipperer, como se acredita tradicionalmente. Quando comentei sobre o registro de casamento de Georg Zipperer em São Bento do Sul (o quarto de seus casamentos, com a viúva Anna Trojan), quis acreditar que o padre havia se equivocado ao falar dos pais do noivo – que aparecem como Georg Zipperer e Anna Augustin. Talvez, supus, o Georg fosse, na verdade, o Adam Zipperer.

Mas, com a descoberta desse registro de batismo do Anton, sou levado a crer que o padre pode muito bem ter acertado o nome, e, nesse caso, os pais de Anton e Georg eram diferentes – e nenhum deles chamado Adam Zipperer! A favor dessa hipótese está o fato de que o cronista Josef Zipperer, que era filho do Anton Zipperer, em seu livro “São Bento no Passado” chama Georg de primo, e não de tio, em determinado momento. Mas, de fato, existem outras passagens em que ele é tratado, realmente, como tio. De modo que não é possível chegar a conclusão alguma, senão de que Anton era filho de Jakob Zipperer, e de que ainda não é possível saber quem foi o Adam Zipperer citado por Jorge e Martim.  

O recente livro de José Kormann sobre “O Tronco Zipperer”, por, na verdade, transcrever o “Bayern in Brasilien”, apenas repete a informação de que Anton era filho de Adam Zipperer. Em nome da veracidade da história de uma das famílias mais importantes na história da cidade, essa questão não pode ser aceita com tanta facilidade, e precisa ser revista (com base em documentos) até que os mistérios sejam, por fim, desvendados, e a verdade histórica venha à tona.  

Como tido, Anton Zipperer faleceu há exatos 117 anos. Naquele 20.12.1891 já estava viúvo de Elisabeth Mischeck, falecida em 1888. Imigraram com idade avançada, se comparado às demais famílias que vieram à São Bento do Sul (a questão da idade diversa apontada no registros dos navios é outro dos mistérios dessa família). Mas, conseguiram legar um futuro mais digno aos seus descendentes, como não teriam na velha Boêmia, onde ninguém mais poderia possuir terras, e a mobilidade social era nula. Lembremos, pois, desse pioneiro de São Bento do Sul.

Os Brasileiros de São Bento do Sul

 Artigo publicado no jornal A Gazeta, de 23 de setembro de 2008

 

Os imigrantes que chegaram há 135 anos em São Bento do Sul, vindos de regiões germânicas e polonesas, construíram uma história que é, merecidamente, sempre lembrada pelos historiadores. Mas além deles, há de se considerar também a presença de “brasileiros” na região. Eram paranaenses vindos de São José dos Pinhais e da Lapa. Algumas dessas famílias moravam na região desde o começo. Francisco Antônio Maximiano, por exemplo, apresentou um título de posse emitido no Paraná em 1872 para o lote que ocupava, e que também estava previsto para os imigrantes de São Bento.

As famílias nacionais não habitavam o núcleo central da cidade. Muitas moravam próximas à Estrada Dona Francisca, ou em bairros como Mato Preto, Fragosos, Avenquinha e Bateias – que pertenciam à São Bento. A distância não impediu que os dois grupos se relacionassem. Embora sempre se evidencie os conflitos de terras, o cronista Josef Zipperer, um dos primeiros imigrantes, relata importantes interações entre os grupos. Era dos brasileiros de Avencal, por exemplo, que os alemães recém-imigrados compravam (a prazo) os mantimentos que faltavam, como feijão, carne seca e farinha de milho.

Há vários casos em que as duas etnias mantinham laços de amizade. João Filgueiras de Camargo, que chegou a ser prefeito de São Bento, morava em uma casa construída em estilo germânico por carpinteiros alemães, em Fragosos. Também foram muitos os casos de brasileiros padrinhos de filhos de imigrantes, e vice-versa.

Os brasileiros também se destacaram na área política de São Bento, que não despertou muito interesse dos imigrantes. O primeiro prefeito da cidade, por exemplo, foi Francisco Bueno Franco, natural de São José dos Pinhais. A maioria dos primeiros cargos públicos foram ocupados por nacionais que moravam nas proximidades. Eles descendem das primeiras famílias de Curitiba e Paranaguá, as quais, por sua vez, descendem dos primeiros paulistas. Além dos citados, entre os primeiros nacionais destacaram-se Antônio dos Santos Siqueira, Thomas Umbelino Teixeira, Francisco Teixeira de Freitas, Amâncio Alves Correia, José Affonso Ayres Cubas, Cândido José Munhoz, Generoso Fragoso de Oliveira, e muitos outros, alguns com descendência na cidade até os nossos dias. Ao comemorar o aniversário de São Bento, convém lembrar também desses nomes que, junto com os imigrantes, fizeram parte da história da cidade em seus primórdios e ajudaram a contribuir para o seu desenvolvimento.

 

Henrique Luiz Fendrich