Sociedade Austro-húngara em Jaguari/RS

Recebi essa semana da amiga Christa Petrásková, da República Tcheca, a foto da Sociedade Austro-húngara de Jaguari/RS. Eu desconhecia que imigrantes boêmios tivessem andado por aquelas bandas.  Um desses imigrantes, Josef Egert, escreveu em 1894 uma carta aos seus parentes na Europa. Ano passado, essa carta foi descoberta em Kněžmoste, na República Tcheca, e então publicada em formato de livro. O pesquisador Petr Polakovič veio conhecer a cidade brasileira, e lá encontrou a foto que Christa me encaminhou.

O estilo da foto é muito parecido com a da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara de São Bento, com seus membros em tom solene e devidamente posicionados diante de um quadro do imperador Franz Joseph. Christa chegou a cogitar que o barbudo na foto pudesse ser Friedrich Fendrich, presidente da Sociedade em São Bento, mas a enorme distância entre as cidades torna isso improvável. Ei-la:

Sem dúvida a carta de Egert foi uma descoberta fantástica, e fico imaginando que sorte não teríamos se  também fosse encontrada uma carta como essa vinda de um imigrante de SBS.

É preciso dizer ainda que Christa está fazendo um valioso trabalho ao traduzir a crônica de Josef Zipperer para a língua tcheca. Parece-me que os laços entre brasileiros e tchecos precisam ser estreitados em iniciativas como essas. Não é possível deixar que o desconhecimento histórico e a crença de que somos meramente alemães venha a impedir esse tipo de intercâmbio.

Membros da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara

A única foto conhecida da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, disponível no Arquivo Histórico de São Bento do Sul, foi publicada pela primeira vez no livro “São Bento no Passado”, de Josef Zipperer (1951). Nele, não existe citação a qualquer dos personagens que dela fazem parte, mas apenas do ano em que foi tirada – 1900. Osny Vasconcellos e Alexandre Pfeiffer reproduziram a fotografia no belo “São Bento – Cousas do Nosso Tempo”(1991), e de lambuja identificaram dois personagens: o presidente Friedrich Fendrich, que é o quinto da primeira fileira, ostentando grandiosa barba branca, e Johann Hoffmann, outro dos principais personagens da Sociedade, e que está imediatamente depois de Fendrich.

Recentemente, algumas novas descobertas têm sido feitas. A foto de Benedicto Bail, o noivo do primeiro casamento boêmio de São Bento do Sul, e que me foi cedida por Norma Huebl, permitiu que também esse personagem fosse identificado entre os membros da Sociedade. Na fotografia, Benedicto é o quarto da segunda fileira.


Fontes familiares também deram conta da participação dos irmãos Aloís e Johann Schreiner na Sociedade. A comparação de fotos permite considerar que Aloís Schreiner é o terceiro após Benedicto Bail. Johann, por sua vez, seria o próximo, penúltimo desta fileira.

Também recentemente, pude reconhecer meu bisavô Frederico Fendrich Filho na foto. É o quarto da terceira fileira, partindo da direita. Contava na época com 18 ou 19 anos. O professor Friedrich Fendrich, além de Frederico, teve um outro filho homem chamado Francisco, do qual não se sabe a idade, mas que, caso tenha sido mais velho, provavelmente também está presente na foto. O outro filho, José Fendrich, contava com 17 anos e, aparentemente, não estava na ocasião.

Ainda procurando comparar fotografias da época com essa fotografia da Sociedade, creio ter encontrado mais um membro. Paul Zschoerper, que foi o primeiro presidente da Sociedade dos Atiradores de nossa cidade, parece ser o mesmo que está na terceira fileira (o terceiro, contando o porta-bandeira). Traços fisionômicos como a barba, a testa larga e o cabelo são bastante semelhantes.

Até o momento, foram essas as descobertas e suposições que nos foram permitidas levantar a respeito dos membros da histórica foto da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara.

Meus Ancestrais: Família Bail

I. PETER HADEN, morador da Boêmia, e que não se casou com Maria Beyerl, mas com ela teve, entre outros:

II. BENEDIKT BEYERL, lavrador, noivo do primeiro casamento Boêmio de São Bento do Sul, membro da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara. Nasceu em Holschlag, na Boêmia, no dia 30.04.1856, tendo sido batizado em Gutwasser. Cedo ficou órfão. Arrumou emprego na marcenaria de Georg Neppel e enamorou-se por sua filha Anna Maria. A aproximação dos dois não foi vista com olhos por Georg, que despediu o humilde Benedikt. Em 1874, Benedikt Beyerl acompanha a família Gschwendtner em sua imigração ao Brasil, a porto do Shakespeare. Dois anos depois, também a família Neppel decidiu imigrar, o que permitiu que Benedikt e Anna Maria, que não haviam se esquecido um do outro, voltassem a se encontrar. Pouco tempo depois da chegada dos Neppel, e mesmo sem a aprovação dos pais de Anna Maria, ela e Benedikt se casaram em São Bento do Sul, em julho de 1876, sendo esse considerado, segundo a obra de Josef Blau,  o primeiro casamento boêmio da cidade. Dez anos depois, sua esposa faleceu, sem deixar geração conhecida. Em 10.02.1886, Benedikt se casou novamente em São Bento do Sul, dessa vez com Catharina Brandl, de Eisenstrass, filha de Josef Brandl e Anna Weinfalter. Na segunda metade dos anos de 1890 foi criada na cidade a Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, uma agremiação destinada a reunir os imigrantes boêmios em suas necessidades. Sabemos da participação de Benedikt nessa Sociedade por conta de uma fotografia sua, já em idade avançada, que é idêntica a uma foto da dita Sociedade em 1900. Já em estado de viúvo, Benedikt Beyerl faleceu no dia 24.02.1928, tendo sido sepultado no Cemitério Municipal de São Bento do Sul. Teve da sua segunda esposa:

III. CATHARINA BAIL, doméstica, nascida em São Bento do Sul no dia 03.05.1896, tendo sido batizada em 18.05.1896 na Capela de Santa Cruz, em Rio Vermelho. Faleceu às 20h20 do dia 30.11.1974[1], em São Bento do Sul, vítima de acidente vascular cerebral, sendo sepultada no Cemitério Municipal de São Bento do Sul, no mesmo túmulo de seu pai e seu esposo. Foi casada aos 27.08.1921[2], em São Bento do Sul, com Rodolfo Giese, filho de Karl Giese e Ida Bertha Labenz. Tiveram geração conforme o título GIESE.

[Para a reprodução do conteúdo, solicita-se a citação das fontes]


[1] Livro 4, fls 109 – Cartório do Registro Civil de São Bento do Sul.

[2] Livro 9, fls 146v – Cartório do Registro Civil de São Bento do Sul.

Festa Resgata Memória da Sociedade Austro-húngara

Em setembro, deve acontecer em São Bento do Sul a 1ª Böhmenfest. A festa busca resgatar o espírito boêmio que inspirava a Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, uma agremiação criada entre 1895-1898 para o auxílio mútuo entre os imigrantes boêmios da cidade. A Sociedade, que foi presidida pelo meu trisavô Friedrich Fendrich, também costumava realizar grandes bailes e comemorações – em especial, por ocasião do aniversário de Franz Joseph, o imperador austríaco da época. E a intenção da Böhmenfest é justamente resgatar a memória dessas festividades, permitindo que as tradições trazidas pelos imigrantes possam ser preservadas e transmitidas às novas gerações. A iniciativa é louvável não apenas por garantir a tradicional festa de setembro na cidade, mas por resgatar a memória de uma Sociedade ainda não muito conhecida na história de São Bento do Sul, o que, a partir de então, pode estimular que novas descobertas sobre ela sejam feitas. Além disso, a festa representa uma afirmação das origens boêmias da maior parte dos imigrantes – e não mais uma genérica “Alemanha”. Com o tempo, a festa pode contribuir também para o aumento do conhecimento histórico e geográfico do passado de São Bento do Sul. Deseja-se sucesso para a festa!

Frederico Fendrich, o filho

Frederico Fendrich, o filho, nasceu em São Bento do Sul no dia 18.09.1881, filho de Friedrich Fendrich e Catharina Zipperer. Foi batizado no dia seguinte, tendo como padrinhos seus tios Josef Zipperer e Anna Maria Pscheidt. Com seu pai, aprendeu o ofício de sapateiro, e quando o velho Friedrich faleceu, em 1906, foi ele que tomou conta da sapataria, conduzindo-a até falecer.

Foi casado em São Bento do Sul no dia 23.09.1908 com Anna Roesler, filha de Johann Rössler e Amalia Preussler, com a qual teve 14 filhos, sendo alguns natimortos ou que faleceram pequenos. Para superar as dificuldades, além da sapataria, Frederico adquiriu uma pequena lavoura no interior, criando também gado e suínos. Por várias vezes, carregava de calçados uma carroça e saia pelas casas de negócio do interior para trocar por roupas e alimentos.

Foi membro da Sociedade de Atiradores de São Bento do Sul, e desde 1899 fez parte da Sociedade Auxiliadora Austro-húngara, a qual fora presidida por seu pai. Em 1915, suplente de vereador, tendo posteriormente assumido e exercido o cargo de 2º secretário entre os vereadores. Na década de 20, também teria sido suplente e sub-delegado de policia.

Também foi o idealizador da primeira carroça exclusivamente fúnebre de São Bento do Sul, tendo sido, por anos, o próprio condutor dos enterros. Por quase toda a sua vida, também conduzia casamentos com um trole de sua propriedade. Na 2ª Guerra Mundial, vendo o problema da falta de gasolina, colocou seu trole à disposição, na Praça, como táxi.  Com outras carroças, fazia fretes, levando tijolos, areia e outros matérias para construção.

Todos esses afazeres não impediam que se dedicasse à Sapataria Fendrich, que chegou a contar com 10 funcionários. Como a sapataria crescia, Frederico Fendrich anexou a ela uma loja de calçados, que teria sido a primeira em São Bento do Sul – e por muito tempo foi a única.

Nas horas de folga, gostava de jogos de cartas. Fã de música, tomou parte no coral da Igreja Católica, no qual esteve por mais de 40 anos, e no Coral da Sociedade Beneficente Operária, sendo o 1º baixo. Dessa Sociedade, também participou da diretoria. Frederico também foi homem de ótima memória, deixando valiosas informações históricas a todos que lhe perguntavam sobre acontecimentos do passado de São Bento do Sul – característica que foi herdada pelo seu filho Herbert Alfredo Fendrich, falecido há pouco tempo.

Depois de poucos dias enfermo, veio a falecer no dia 25.05.1947. Consta que seu sepultamento foi um dos maiores da época, tendo as duas igrejas locais tocado os seus sinos em sinal de reconhecimento e homenagem ao falecido. O cortejo fúnebre seguiu para o Cemitério Municipal e foi acompanhado pelas melodias da Banda Treml. Frederico está sepultado no mesmo túmulo de seu pai, onde também seria sepultada, 21 anos depois, a sua esposa Anna Roesler. No ano de 1960, Frederico Fendrich foi homenageado com o nome de uma das ruas da cidade, localizada ao lado da atual Sociedade Literária.

Em meio aos arquivos de meu avô, encontrei uma pequena poesia – possivelmente feita por ele – em homenagem a Frederico Fendrich, e que foi lida por Mário Melo, da Rádio Timbira, no dia 23.06.1947. Ei-la:

 

Morrestes, e deixastes a terra que amava

O berço de teus filhos a balouçar sereno

Mas seguistes para terra verdadeiramente tua

O túmulo dos que seguem a “Cristo Nazareno”

 

Deixastes a teus filhos lágrimas perpétuas

Herança do amor de um pai bondoso

À tua esposa, um soluçar amargo

Pela saudade de um querido esposo

 

Morrestes sim! Mas lá nas alturas

Onde há mais vida, doçura e amor

Está tua alma para a “Vida Eterna”

Junto aos anjos de “NOSSO SENHOR”

A Sociedade Auxiliadora Austro-húngara

Seguindo a tradição de se criar “sociedades culturais, recreativas e beneficentes” em colônias alemãs (FICKER 1973), São Bento do Sul também teve as suas. Já em 1881 existia a Sociedade Literária, que perdura até os nossos dias. Outra que resiste é a Sociedade dos Atiradores, criada em 1895. E os velhos boêmios, que imigraram ao Brasil na década de 1870, também decidiram criar a sua Sociedade Auxiliadora. Verdade é que uma das motivações para essa criação foi o ciúme que tinham da Sociedade dos Soldados Veteranos, como Josef Zipperer (1954) não fez nenhuma questão de esconder. Essa outra agremiação reunia alemães ex-combatentes de batalhas, como “as guerras de 1864-1866” e a “grande guerra contra a França”, em 1870 e 1871 (Idem). Cheio de condecorações estampadas no peito, era com grande galhardia que os membros desfilavam pelas ruas de São Bento no dia 02 de setembro, quando lembravam a batalha de Sedan, na guerra de 1870.

Os boêmios, embora mais rústicos, também tinham os seus ex-combatentes. Havia alguns que lutaram nas guerras na Dinamarca, contra os Prussianos, em Sadwa, e mesmo na Itália. Não poderiam, naturalmente, fazer parte da outra sociedade, já que lá estavam apenas os alemães prussianos, que há pouco tempo ainda estavam em guerra contra os austríacos. Quiserem então fazer uma sociedade á parte, e criaram a Sociedade Auxiliadora Austro-húngara.

Ao que parece, não existem muitos registros sobre essa sociedade – já teriam sido encontrados se houvessem. De modo que sabemos muito pouco sobre ela, além dos relatos de Zipperer. Sabemos por dedução que sua criação se deu entre os anos de 1895 e 1898. Primeiro, porque Zipperer diz que quando da criação da Sociedade, já existia o grupo dos Atiradores, e ele foi criado em 1895. Segundo, porque o mesmo autor cita um episódio dessa Sociedade que aconteceu em 1898. Quanto à duração, tampouco nos é possível precisar, mas sabemos pelas atas da Sociedade de Cantores que ainda existia em meados de 1906.

Meu trisavô Friedrich Fendrich foi presidente da Sociedade. Não se sabe durante qual período, ou se houveram outros. A Sociedade tinha uma bandeira que misturava o verde-amarelo do Brasil com o amarelo-preto da dinastia dos Habsburgos, que por séculos governaram a Áustria, e ainda governavam quando da criação da Sociedade.

A grande festa dessa associação era no dia 18 de agosto. Portando, apenas alguns dias antes da festa prussiana. Nesse dia se comemorava o aniversário de Francisco José, o imperador austríaco. Como os prussianos, agora os boêmios também poderiam desfilar nas vias púlicas. Aqueles que eram ex-combatentes poderiam, igualmente, exibir orgulhosamente as suas condecorações.

Zipperer descreve uma dessas festividades, falando que antes do desfile, membros e familiares assistiam a uma missa. Os festejos começavam em seguida, animados por bandas que tocavam canções da Boêmia, terra de todos eles. Terminavam o dia na cervejaria de Johann Hoffmann, que era o secretário da Sociedade.

A sede da sociedade era o salão de Josef Zipperer. Nas comemorações do ano de 1898, houve então um baile nesse salão. Ele nunca havia ficado tão cheio, com os membros e suas famílias, que “na maioria eram simples lavradores” (ZIPPERER 1954). Os dançarinos tiveram que ficar separados em grupos. Por essas dificuldades, a sociedade decidiu trocar de salão, e optou pelo salão de Hermann Knop (um pomerano! Zipperer julgou isso como uma verdadeira desfeita).

Os livros não nos apontam muitas coisas a mais sobre a Sociedade, além da fajuta visita do cônsul alemão, forjada por Zipperer para se vingar da desfeita, e que já foi narrada aqui. Eis uma foto dos membros em 1900:

E quem eram esses membros? Infelizmente a maioria não é mais possível descobrir. O livro de Vasconcellos nos dá o nome de dois: o presidente Friedrich Fendrich, que é o quinto da primeira fileira, partindo da esquerda, e ainda o do secretário Johann Hoffmann. Esse era também cervejeiro, e teve a infelicidade de ser desafeto do Dr. Philipp Maria Wolf, que, nas suas críticas, dizia que fazia parte de “agremiações idiotas”. Todos os outros fotografados são tratados como incógnitos. Mas algumas descobertas foram feitas. Por fontes de tradição familiar, sabemos também que faziam parte Aloís Schreiner e seu irmão Johann Schreiner. Aloís é provavelmente o terceiro da segunda fileira, partindo da direita. Seu irmão Johann provavelmente estava perto, podendo ser o que está antes dele. Mas isso ainda não é possível afirmar. Graças a foto de Benedicto Bail que recebi de Norma Huebl e ao olhar clínico de Rose Vidal Teixeira, descobri que também ele fez parte da Sociedade! Isso era algo totalmente desconhecido, embora bem possível. Uma pequena descoberta como essa é cheia de significação e importância, ainda mais que foi feita exatamente na semana que lembro o seu 80º aniversário de falecimento. Ele é o quarto da segunda fileira, partindo da esquerda. Está atrás de Fendrich (o que também me leva a uma conclusão curiosa: o avô do meu opa conhecia o avô da minha oma). Nesse post aqui, tem a foto do Benedicto que mostra traços idênticos, embora nessa ele já estivesse mais velho: http://coisavelha.blogspot.com/2007/09/benedikt-beyerl.html

Suponho que Jacob Treml também fizesse parte da Sociedade. Digo isso porque, além de ser boêmio, ele era veterano de guerra. Quem seria ele naquela foto? O mesmo podemos dizer de Georg Gschwendtner, cuja identidade na foto só será possível descobrir se porventura um descendente tiver alguma relíquia que permita a comparação. Tantos e tradicionais sobrenomes boêmios em São Bento também certamente devem estar representados nessa foto. As buscas continuam, tanto pela identificação como no detalhamento das atividades da sociedade.

O Cônsul Que Não Veio

Protocolo de Recepção ao Cônsul que nunca veio. O texto do documento encontra-se mais abaixo.
.
“Na história das colônias, principalmente alemãs, as sociedades culturais, recreativas e beneficentes sempre tiveram uma influência decisiva na formação moral e cultural dos colonos”. (FICKER, 1973 p. 205).
Entre os são-bentenses já havia sido criada uma sociedade literária, em 1881, e a Sociedade Atiradores em 1895. Ambas as sociedades perduram até os nossos dias. Somava-se a essas a Sociedade dos Soldados Veteranos. Essa última, aceitava como membros ex-combatentes alemães, principalmente aqueles que lutaram nas guerras de 1864-1866 e na grande guerra contra a França, em 1870-1871. Muito bem organizada, a sociedade desfilava garbosamente pelas ruas da vila no dia 02 de Setembro, que era quando comemoravam a batalha de Sedan, da guerra de 1870. Os sócios exibiam suas condecorações no peito, enquanto uma banda puxava as marchas da apresentação. Findando o dia, realizavam um grande baile.
Ora, os boêmios também ficaram com vontade de fazer a sua sociedade, e de fato a fizeram. Entre eles, havia também ex-combatentes de guerras na Dinamarca, em Sadwa, contra a Prússia e ainda na Itália. Continuamos com as palavras de Josef Zipperer:
“Esses veteranos não podiam fazer parte da associação já existente, que só agremiava descendentes alemães, principalmente prussianos, contra os quais havia poucos anos passados, os austríacos tinham estado em guerra, resolveram criar sua própria sociedade, sob a forma de uma Sociedade Auxiliadora. Essa foi criada sob a denominação de “Sociedade Auxiliadora Austro-húngara”, na qual todos os súditos da velha Áustria podiam se associar. (ZIPPERER, 1951 p. 90).
Frederico Fendrich era o presidente da recém-fundada sociedade. Foi criada, para bem representá-los, uma bandeira pintada em verde-amarelo de um lado, as cores da nova pátria, e amarelo-preto do outro, as cores que identificavam a dinastia dos Habsburgueses. Os Habsburgos, conforme já dissemos, governaram a Áustria por séculos, e eram ainda eles que governavam quando da criação da sociedade.
Se os prussianos tinham no 02 de setembro um motivo de comemoração, os boêmios consideravam o 18 de agosto um dia de grande festa. Era essa a data de aniversário do então imperador austríaco Francisco José. A data era muito festejada. Era então a oportunidade da Sociedade desfilar nas vias públicas, com os ex-combatentes igualmente exibindo suas condecorações.
Antes do desfile, porém, os membros e seus familiares participavam de uma missa. Só então era que começavam os festejos, sempre animados por bandas tocando alegres canções da Velha Áustria, as quais nunca esqueciam e que tanto animavam seus dias cá no Brasil. Terminavam o dia na cervejaria do Hoffmann, os sócios e seus parentes.
Em dezembro de 1898, o imperador Francisco José comemorou meio século à frente da Áustria. Foi outro dia de grandes comemorações para a sociedade da qual Fendrich era presidente. Tanta alegria resultou num grande baile no salão de Josef Zipperer. Eis as palavras do próprio a respeito:
.
“A Sociedade tinha a sua sede no meu salão e com guirlandas, bandeiras transparentes com as armas da Áustria e do Brasil, aquele salão apresentava um ar festivo. À noite a minha casa ficou completamente cheia de sócios e suas famílias, os quais na maioria eram simples lavradores”. (ZIPPERER, 1951 p. 91).
.
O detalhe é que o local ficou cheio demais, obrigando os dançarinos a ficarem separados em grupos. A diretoria da sede achou por melhor mudar a sua sede para um local mais amplo, a fim de dar uma maior comodidade aos seus membros. Escolheram então o salão de Hermann Knop, que era pomerano.
Isso revoltou Josef Zipperer, o dono do salão aonde até então eram realizadas as reuniões e comemorações da Sociedade. Fez ele, então, um elaborado plano. Sabendo da recente criação do Consulado Austríaco em Curitiba, resolveu simular uma visita do Cônsul para a cidade. Foi escrita uma carta assinada pelo “cônsul” e entregue a Frederico Fendrich.
A visita do cônsul animou sobremaneira a Sociedade, e boa parte da cidade. Começaram os preparativos para o grande dia da recepção.
Josef Zipperer foi então ter com seu cunhado Josef Linzmeyer, morador de Oxford. Linzmeyer dispunha de um trole com dois cavalos. Era o que Zipperer precisava para que seu plano funcionasse. Afinal, ele não queria que o plano resultasse apenas na decepção pela não vinda de cônsul nenhum.
Assim, quando todos avistaram no horizonte o trole, julgaram ser o cônsul austríaco, que finalmente chegara a São Bento do Sul. Qual não deve ter sido a estupefação e a frustração, quando viram que os ocupantes do trole eram justamente Zipperer e Linzmeyer, que acenavam alegremente para a multidão atônita. Obviamente, o trole seguia ligeiro, afinal, eles não podiam arriscar (vai que alguém se recuperava do susto enquanto eles ainda estavam passando?)
Um episódio curioso, envolvendo nomes importantes da história de São Bento do Sul. O Arquivo Histórico de nossa cidade tem em seu acervo uma cópia do “Protocolo de Recepção ao Cônsul”, constando o nome de diversos vultos e as entidades que eles deveriam representar durante a visita que nunca houve.
.
Eis a versão transcrita do protocolo de recepção:
.
Protocollo
.
da deliberação respeito do arranjo de uma cumprimentação a fazer nachegada do Senr. de Zimmerer (Limmerer?) – consul geral do impériode Allemanha, acreditado no Estado de Sta. Catharina da República doBrazil – a qual será anunciada pelo telégrafo de Joinville:As seguintes associações tem mandado deputados:
.
1. A Associação Literária pelo senhor Carlos Leichsenring
2. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ militar ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Henrique Hussmann
3. ¨¨¨¨¨¨¨¨ Erholing (?) (literário) ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ João Hoffmann
4. ¨¨¨¨¨¨¨¨ escolar dos allemães ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨Otto Krause
5.¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ dos atiradores de São Bento, ¨¨¨¨¨¨¨ Antº Koenig
6. ¨¨¨¨¨¨¨ escolar da estrada Dª Francisca ¨¨¨¨¨Carlos Doetsch
7. ¨¨¨¨¨¨¨¨ dos atiradores de Lençol ¨¨¨¨¨¨ Jozé Kwitschal
8. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨de Cultura Glüchauf (?) ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Jozé Wand
9. ¨¨¨¨¨¨¨¨ Hungaro-Austríaco de S. Bento¨¨¨¨¨¨¨¨ Frederico Fenrich
10. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨ idem Lençol ¨¨¨¨¨¨¨¨ Jozé Endler
11. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨dos cantadores (???) ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Veit Schwedler
12. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨escolar do Lençol ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨Julio Schindler
13. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨dos cantadores (Saengerbund) ¨¨¨¨¨¨ Max Richter
14. ¨¨¨¨¨¨¨¨ Evangelica Ecclesial ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Georg (?) Boettner
15. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨Camara Municipal ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Gustavo Kopp
16. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨escolar de Oxford ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Ernesto Wolf
17. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ São Bento ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨(não consta)
.
A resolução do programma para esta comprimentação é a seguinte:
1. O arco triumphal será construido na Rua Argollo entra as casasdos Srs. Wünsche e Lutz, e as despezas serão pagas por contribuiçõesvoluntarias.
2. A collocação das associações e dos alumnos das escolas perto aocuidado do Comite Festival, o qual se compõe das seguintes pessoas:
3. Gustavo Kopp, Henrique Hussmann, Frederico Fendrich, MoritzRichter e Antº Koenig.
4. O Comitê tem de reservar e escolher um lugar mais favorável econveniente para as autoridades convidadas.
5. Os cantadores reunen-se e collocão-se na varanda da casa daDirecção e principião com o canto de comprimentação no momento dachegada do Festivado.
6. As despezas pª esta comprimentação e seus preparos serão pagastambém por contribuições voluntárias.
7. O convite das autoridades como também a participação do dia ehora da solemnidade é confiado ao cuidado do senhor Otto Gelbike
8. A comprimentação do Festivado por sermão é confiado ao Senr.Theodoro Hermann.
9. A apresentação das autoridades, (como a participação do dia ehora da solemnidade) e de outras pessoas distinctas é confiada aoSenr. Otto Gelbike.
10. O Comité festival terminará, confore ás circunstancias, umanoite dos dias seguintes pª uma assemblea social do salão do Senr.Linke, e convidará por este fim as autoridades e pessoas distinctas.
.
Contrasignado pelos deputados
Assignado pelo escrivão João Hoffmann
.
by Henrique Fendrich.