Os primeiros casamentos de São Bento

É bastante conhecida a história de Benedikt Bail e Anna Maria Neppel, os dois que viveram praticamente um “Romeu e Julieta” em terras são-bentenses. A história começou ainda na Boêmia, quando Benedikt, aprendiz de marceneiro, se interessou pela filha do seu patrão – ou seja, Anna Maria.  O velho Georg Neppel, pai da moça, tratou então de despedir Benedikt, que não passava de um órfão sem maiores condições de vida. Em 1874, Benedikt veio ao Brasil acompanhado da família Gschwendtner, mas nunca esqueceu da sua Anna Maria na Boêmia.

Dois anos depois, vendo-se em situação financeira mais complicada, também Georg Neppel decidiu imigrar com a família. E justamente para São Bento. Essa “coincidência” é bastante curiosa, considerando que os pais continuavam contra o romance, e que  Anna Maria teria trocado cartas com Benedikt já no Brasil. Veio a família Neppel e a primeira coisa que Benedikt e Anna Maria fizeram ao se encontrar foi providenciar o casamento – mesmo contra a vontade dos pais dela.

E esse casamento, descrito em detalhes nos livros de Josef Blau e Josef Zipperer, aconteceu de fato no dia 08.08.1876. Muitas vezes, esse é tido como o primeiro casamento de São Bento, o que não é verdade. Esse foi, sim, o primeiro casamento boêmio de São Bento. Antes do casamento de Benedikt, aconteceram em São Bento cinco casamentos:

04.08.1876 Manoel Rodrigues Fernandes, víuvo de Anna do Espírito Santo, e Francisca de Siqueira, filha de Manoel Fidélis de Siqueira e Joaquina Carvalho, ambos naturais batizados em São José dos Pinhais, onde são fregueses.

05.08.1876 Jesuíno Pereira de Camargo e Maria Gregória
06.08.1876 Miguel Karaschinski e Catharina Demska
06.08.1876 Custódio Alves Correa e Maria Ribeiro Simões
06.08.1876 Belmiro Coelho da Rocha e Thomázia Carvalho de Lima

Note-se que todos esses casamentos, incluindo o de Benedikt, aconteceram na mesma vinda do Padre Karl Boegershausen a São Bento. No mesmo dia do primeiro casamento boêmio (ou mesmo bávaro) de São Bento, também aconteceu o segundo, envolvendo Johann Schiessl e Barbara Siemet. Nos dias seguintes aconteceram outros:

09.08.1876 José Tauscheck e Anna Kroepel
10.08.1876 Francisco Augustin e Antonia Pawlowska

E então o padre voltou para Joinville, tendo retornado apenas em novembro, quando realizou os dois primeiros casamentos em Campo Alegre:

08.11.1876 Isaac Ribeiro de Lima e Francisca Gonçalves das Neves
08.11.1876 Evaristo José de Massaneiro e Lucinda Nogueira dos Santos

E em seguida mais dois em São Bento:

14.11.1876 Carlos Muller e Maria Anna Kamienski
14.11.1876 Mathias Piritsch e Eva Witt

As primeiras parteiras de São Bento do Sul

Você já teve curiosidade em saber como vieram mundo os primeiros são-bentenses? Eles, naturalmente, não dispunham do mesmo conforto que temos hoje. O atendimento médico se resumia ao Dr. Felippe Maria Wolff, que só se instalou em São Bento alguns anos depois que a colônia já havia sido fundada – antes disso, fazia apenas visitas regulares. Não é difícil imaginar que as mulheres grávidas não podiam depender da sua assistência quando sentiam as dores do parto. Logo, quem entrava em cena eram as parteiras.
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A história acabou deixando à margem essas personagens, e hoje pouco sabemos a respeito do trabalho das primeiras parteiras de São Bento. Descobri por acaso o nome de algumas delas, mencionadas por um escrivão mais detalhista, no ano de 1879 – mesmo assim, normalmente a identificação era imprecisa (“a mulher do colono Henrique”, por exemplo). De tudo que foi possível descobrir, as seguintes mulheres atuaram pelo menos uma vez como parteira nos primórdios de São Bento:
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Franziska Schmidt (ou, “a mulher do Gschwendtner”), Marianna Faralich, Anna Hanisch (Hanusch?), Carolina Lemann, Guilhermina Engel, Anna Leck, Barbara Grossl, Anna Tauscheck, Maria Mühlbauer, a mulher do Schabniefska, a mulher do colono Henrique, a mulher do Jantsch, a mulher Bäcker, e mais alguns nomes ilegíveis.
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Dessas, as primeiras aparecem em mais de um registro, fazendo acreditar que realmente atuavam como parteiras na região. Era um trabalho que possivelmente exigia caminhadas longas, às vezes noturnas, e no qual não contavam com muitos materiais de auxílio. É possível imaginar as dificuldades de um parto realizado de madrugada, com pouca iluminação na casa.
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Provavelmente, essas parteiras passavam por muitas situações de incerteza e insegurança – elas estavam sujeitas a vários riscos, pois muitas crianças e mulheres morriam durante o parto. Por outro lado, deviam ser mulheres de notável sensibilidade e sabedoria. É possível que fizessem uso de práticas populares, como uso de plantas medicinais e simpatias. Certamente faziam uso da oração, como forma de garantir que o parto acontecesse sem maiores problemas.
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E, pelas mãos dessas mulheres, nasceram gerações de são-bentenses.